Quando as coisas não ocorrem como planeámos (com 18 dicas)

(ATUALIZAÇÃO)
Este artigo pretende, partindo de histórias que ocorreram comigo, fazer referência aos problemas (ou perrengues, como dizem os brasileiros) mais frequentes em viagem e dar algumas dicas. Quero dizer que nunca nos aconteceu (a mim e às companheiras de viagem) nada de verdadeiramente grave. Por mais dramatismo que imprima ao que escrevo, nada foi tão dramático que não conseguíssemos ultrapassar e continuar viagem.

Então vamos às histórias. 
Vou dividi-las em três secções: doenças, transferes e voos e malas.

A) Doenças

Sou um bocadinho sensível à alteração da comunidade bacteriana... ou seja, as bactérias novas fazem-se notar em mim e dão consequências nada boas.
Em 1995 fui pela primeira vez a Paris. Com um grupo de alunos. Comi qualquer coisa com bactérias novas (se não foram bactérias, foi outra coisa qualquer) e zás, uma noite na sanita.

No dia seguinte, eu estava de rastos mas o programa incluía a subida à Torre Eiffel. Era a minha primeira vez em Paris.
Não conseguia estar de pé na fila para a torre. Sentada no chão pensava: "subo ou não subo a Torre Eiffel?"
"SUBO! Eu vou de gatas, mas vou!! Eu sei lá se cá volto! Amanhã já estou boa e fico toda a vida com pena de não ter subido!"
E subi.

845-Paris.jpg
Fonte: https://commons.wikimedia.org/ ... (tive preguiça de digitalizar as minhas)

Felizmente, já voltei mais duas vezes a Paris e voltei a subir à Torre mas nenhuma foi tão especial como a primeira.

A segunda história é parecida com a primeira, só muda o local.
Quando descrevi o roteiro fiz na viagem a Hong Kong, Macau e Vietname (aqui) disse que o meu terceiro dia de viagem terminou à hora do almoço. Na verdade, terminou até antes.

Esta foi a primeira foto do dia. Não são efeitos especiais... foi mesmo a máquina da amiga que se começou a esfrangalhar...
Mas tirando isso, parecia tudo bem!

À saída do hotel, feliz e contente

Esta foi a última foto que tirei nesse dia.

Três horas depois, sem saber como voltaria para o hotel...

Como contei, nesse dia fomos à ilha de Hong Kong e subimos a um edifício que serve de miradouro, só que...
O que eu conheci mesmo bem do edifício foi...
... a casa de banho!
Absolutamente horrível!
Não havendo uma casa de banho móvel, não estava a ver como voltava para o hotel.
Vi a amiga almoçar, fui mais uma vez à casa de banho, e lá consegui voltar ao hotel.
Passei o resto da tarde no quarto (mentira! na casa de banho) mas às 6 da manhã e depois de vários Imodiuns já estava quase boa.
Resultado: o stock de Imodium que levava para 20 dias estava quase esgotado e a seguir ia para o Vietname, o que significava que teria de arranjar maneira de comprar mais lá.
Por acaso, Imodium no Vietmame também se chama Imodium mas se não se chamasse não teria havido problema. Estava prevenida com a dica 3.

A terceira história não se passou comigo mas com uma das amigas que me acompanharam à Tailândia (2012). Conto-a porque tem ligação com a primeira história que conto na secção dos transferes. Íamos num voo de Bankoque para Koh Samui, uma ilha onde iríamos fazer praia durante três dias, quando se sentiu indisposta e foi à casa de banho do avião. Já não saiu de lá. Na aterragem, as hospedeiras obrigaram-na a sair. Estava de todas as cores, entre o branco e o verde...
No aeroporto sentou-se no chão e eu corri para encontrar o transfere que nos esperava. Não sabia se iríamos para o hotel, se para o hospital.
Corri.

O que nos esperava na ilha Samui


Aeroporto de Koh  Samui (tirada à volta porque à ida não houve condições)

Fomos para o hotel. Com os medicamentos que tínhamos e arroz, que não falta no país, no último dia já conseguiu levantar-se e ir à praia.


Dicas: 

1) Independentemente do país que visitem, e sobretudo as pessoas mais sensíveis, tenham sempre cuidado com a água que bebem (não se esqueçam do gelo nas bebidas) e com os alimentos crus (tenho a dizer que a amiga que passou mal na Tailândia é sempre a mais cuidadosa de nós as três e mesmo assim...).

2) Imodium é um medicamento obrigatório na farmácia de viagem, independente do país para onde forem.

3) Tenham à mão (levem escrito ou pesquisem na internet) o princípio ativo dos medicamentos. Os medicamentos podem ser vendidos com diferentes nomes comerciais nos diferentes países mas o seu princípio ativo é o mesmo (o do Imodium é  a loperamida).


Outras dicas sobre saúde:

4) Se forem para fora da Europa façam a consulta do viajante (é fácil marcar, não tem grande espera e há em vários pontos do país).

5) Façam uma farmácia de viagem. Não é preciso levarem os medicamentos todos que têm na farmácia de casa nem uma caixa de cada medicamento mas pensem no que é mais habitual acontecer (diarreia, constipação, dores de cabeça, febre, picadas de insetos, infeção bacteriana).

6) Levem os medicamentos na bagagem de mão, sobretudo os que têm de tomar obrigatoriamente. Sempre! (já vão perceber porquê)

7) Se a doença não for realmente grave, tentem não deixar de fazer o programado. Provavelmente nunca mais estarão naquele sítio.

8) Evitem dizer à família que estão doentes, já que quem ficou em casa não vai poder fazer nada e vai ficar preocupada até porque não vai ter a certeza da gravidade. 


B) Transferes

Na última história, estava eu feita louca à procura de alguém com um papelinho com o nosso nome.
Onde estava esse alguém?
Não estava!

Já nos tinha acontecido parecido em 2011, em Ushuaia. Viagem feita, à nossa medida, à Argentina e Chile, com mordomias que incluíam o transfere dos aeroportos para os hóteis, que nesse aeroporto falhou. Nessa altura não tivemos problemas nenhuns, chamámos um táxi e fomos.
Aqui, na Tailândia, a situação era outra. A minha amiga estava ora estendida no chão, ora na casa de banho.
Mas pronto, tudo se resolveu. Tínhamos o nome da agência que deveria fazer o serviço e as pessoas das agências que estavam no aeroporto para levar também clientes telefonaram ao colega e em poucos minutos combinaram ser um dos que estava ali a levar-nos.

Aeroporto de Ushuaia, todo em madeira. Muito giro.


O nosso hotel em Ushuaia

Vista do hotel em Ushuaia

Farol do Fim do Mundo, uma das razões para termos ido a Ushuaia



Dica:

9) Mesmo que a viagem seja organizada, e estejam previstos os transferes, tenham sempre à mão o nome e morada do hotel para onde vão. Também é útil saber a agência local que é responsável pelo transfere. Foi sabendo esta informação que em Ushuaia, o recepcionista do hotel telefonou e nos foi devolvido o dinheiro que gastámos no táxi.

C) Voos e malas

Não tenho grande imagem do aeroporto de Madrid (ou das pessoas que lá trabalham). Por duas vezes que fizemos escala nesse aeroporto, as nossas malas foram abertas. Da primeira vez, íamos para Buenos Aires, cortaram os cadeados, abriram as três malas (éramos três) e remexeram tudo mas não tiraram nada. Na minha mala não conseguiram cortar o cadeado e então cortaram as argolas do fecho onde o tinha prendido, o que significa que naquela mala não consigo mais colocar cadeado. Da segunda vez só abriram uma das malas, remexeram mas também não tiraram nada.
Outra coisa chata que acontece muitas vezes é as malas perderem rodas, ou partirem-se. A mim nunca me aconteceu, talvez porque segui sempre a dica n.º 11 na compra da minha coleção de malas de viagem (tenho várias porque ao longo do tempo fui comprando malas cada vez mais pequenas).

A história seguinte foi a que mais constrangimentos nos trouxe e a que conta duas situações que não estavam planeadas. Aqui vai:

Em agosto de 2017 voámos (eu e mais duas amigas) com destino a Lima. Comprámos o voo que nos pareceu mais adequado (podem ver aqui o que escrevi sobre o que são, para mim, bons e maus voos). Esse voo partia de Lisboa, tinha escala em Toronto e aterraria em Lima já de noite. Apesar de ser operado por duas companhias aéreas (Air Canada e Air Latan) foi comprado em conjunto e por isso as nossas malas seguiriam para Lima sem necessidade de as levantarmos em Toronto. Tudo perfeito!
Só que o avião que nos levaria de Lisboa para Toronto, vinha de Madrid e chegou a Lisboa com mais de 3 horas de atraso. Quando chegámos a Toronto, o voo para Lima já tinha partido. Aí estava uma funcionária à nossa espera que nos disse que só haveria outro voo direto para Lima daí a 2 ou 3 dias e que a solução era apanhar, nessa mesma noite, um voo para Santiago do Chile e daí apanhar outro para Lima. Chegaríamos a Lima um dia depois do previsto mas, mesmo assim, era a melhor solução. Perguntámos pelas malas e a senhora disse-nos que seguiriam diretamente para o nosso voo.
E assim lá andámos nós nos céus da América, de ponta a ponta, durante 24 horas.
Já tínhamos perdido um dia de passeio em Lima, já tínhamos perdido o dinheiro de uma noite de hotel. Parecia que nada de pior podia acontecer.
Mas aconteceu.

Quando chegámos a Lima, fomos às passadeiras levantar as malas.... e onde é que elas estavam?
Não estavam! As três malas tinham desaparecido!
Disseram-nos que tinham ficado em Toronto e que as fariam chegar a Lima no dia seguinte. Só que nós no dia seguinte já não estaríamos em Lima. Ok, então as malas iriam para o aeroporto de Arequipa, dois dias depois.

As coisas podiam piorar? Podiam e pioraram!
É que no dia marcado, as malas não estavam no sítio combinado. Duas apareceram um dia depois e a outra não chegou a aparecer!
A minha amiga esteve 21 dias na América do Sul, com verão e inverno, sem mala. Valeu-lhe ter seguido a dica n.º 12 (superando o que aí indico) e ser uma pessoa descontraída, bem disposta e desenrascada. Mais, esta amiga teve uma doença grave e precisa de medicação diária. Imaginam o que teria acontecido se ela não seguisse a dica n.º 6?

Uma pessoa não dormiu uma noite e há 2 dias que não toma banho. Quando vai tomar banho, o chuveiro é pregado na parede e claro havia uma touca mas ficou na mala... Pronto... a gente desenrasca-se

Lima. Além de termos perdido um dia, quando chegámos havia manifestação de professores e as ruas estavam cortadas. Um azar nunca vem só!

Dicas: 

10) Na escolha de malas de viagem, deem preferência às que não têm rodas salientes. Quanto mais escondidas estiverem as rodas menos é a probabilidade de se partirem nos trambolhões que dão nos aeroportos (já para não falar que são melhores as escuras.... e que não vale a pena comprar malas muito caras porque o tratamento é o mesmo). Prefiram malas robustas.

11) Equacionem da necessidade de fechar a mala com cadeado. Lembrem-se que, querendo, podem abrir na mesma (embora leve mais tempo, acho eu...)

12) No avião levem  umas calças de ganga vestidas (ou outras que sejam práticas e não se note o sujo...) e pelo menos um casaco, duas cuecas, dois pares de meias e duas t-shirts na bagagem de mão. Sempre e qualquer que seja o destino! Em caso de necessidade, as calças de ganga dão para todas as ocasiões durante oito dias, a t-shirt que usam durante o dia serve de pijama e vão lavando o resto. 

13) Quando viajam com a companheira/o dividam a roupa de ambos pelas duas malas de porão. Se uma não aparecer não ficam desamparados.

14) Coisas que são para nós valiosas (ou porque são caras ou porque nos são muito queridas) ou não levamos em viagem ou vão na bagagem de mão. Sempre! Nos voos low cost, por vezes somos obrigados a colocar a mala de cabine no porão. Nesse caso, há sempre um bolso onde possamos colocar a carteira, o telemóvel e a máquina fotográfica. Em caso algum, estes meus objetos vão para o porão.

15) Nunca planeiem grande programa para o primeiro dia de viagem. Pode acontecer o que aconteceu connosco em Lima. Se tivéssemos só um dia em Lima com viagem para outro local, teria sido um grande transtorno porque teríamos perdido essa ligação.  


A última história passou-se em 2022, quando voámos para a Albânia. O voo tinha escala em Bolonha. O voo de Bolonha para Tirana, quando foi comprado tinha partida às 20.35h. Chegaríamos a Tirana às 22.10h e por isso não nos preocupou reservar um alojamento que encerrava a receção às 00.00h.
Uns dias antes da viagem, foi alterado o horário deste mesmo voo. Partiria de Bolonha às 22.10h e chegaria a Tirana às 23.50h. Contactado o alojamento, garantiram que nos esperariam até à 1 da manhã. Parecia (ainda) que estava tudo bem. Acontece que uma vez em Bolonha, o voo foi sofrendo sucessivos atrasos e partiu, de facto, às 01.55h. Mais de três horas de atraso. Assim, em vez de chegarmos a Tirana às 23.50h, chegámos às 03.35h, o que teve uma implicação: ficámos sem alojamento! (Ver dica 16).

Mais conhecedora dos meus direitos como passageira do que em 2017, contactei uma das empresas que, a troco de uma percentagem do reembolso, medeiam o conflito entre companhia aérea e cliente. Pretendia assim receber a devida compensação pelo atraso de 3 horas do voo. Porém, recebi uma resposta espantosa dessa empresa: não era possível receber a compensação porque a companhia aérea tinha falido. Era notoriamente falso.
Resolvi então fazer uma reclamação diretamente para a companhia aérea e em poucos dias respondera-me, ressarcindo-me (e à minha companheira de viagem) com um voucher de 250 €. Veja as dicas 17 e 18.


Dicas:

16) Se o seu voo está previsto chegar ao destino já de noite, reserve para essa noite alojamentos com receção 24 horas.

17) Para pedir indemnização por atraso do voo entre em contacto com a companhia aérea antes de recorrer a uma empresa de mediação. Não precisa de ter seguro. O Regulamento CE 261/2004 (aqui) protege os passageiros (só não protege se o aeroporto de origem e de destino forem fora da UE ou nos casos em que a origem é fora da UE e o destino na UE mas a companhia é de fora da UE). No meu caso, a origem era na UE, o destino fora da UE e a companhia era de fora da UE.
A indemnização varia com com o atraso e a distância do voo. Como o atraso do meu voo foi entre 3 e 4 horas e o voo tinha menos de 1500 km, a indemnização é de 250 €.

18) Prefira SEMPRE comprar os voos diretamente na companhia aérea. 
Pelo que tenho visto, em caso de atraso ou cancelamento, é quase impossível receber compensação se comprar os voos por empresas de reserva de voos. 



Boa Viagem!

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