Picos da Europa - Roteiro

Os Picos de (da) Europa são uma formação montanhosa, de natureza essencialmente calcária, na Cordilheira Cantábrica. Localizam-se no norte de Espanha, estendendo-se pelas províncias das Astúrias, Cantábria e Castela e Leão.
A parte ocidental foi declarada como Parque Nacional em 1918, com o nome de Parque Nacional de la Montaña de Covadonga. Tinha uma área de 169,25 km² e foi a primeira área protegida do país. Em 1995, o Parque foi ampliado, passando a ter a área atual (646,60 km²). Em 2003, a UNESCO aprovou o estatuto de Reserva da Biosfera para o Parque Nacional Picos da Europa.

Este é um excelente local para fazer passeios a pé. E é isso que vos convido a fazer em 5 dias.
Se está a pensar em desistir de ler o artigo porque a paisagem até pode ser fantástica mas andar km a pé não é para si, não faça isso. Poderá fazer o mesmo percurso, eliminando as caminhadas. Vai ver que vale a pena na mesma.

Localização do Parque Nacional Picos da Europa

PREPARAÇÃO

A preparação faz-se numa hora...
Aqui ficam algumas dicas.

Dica 1 - O melhor é ir de carro. 
Terá de ter um carro para chegar ao Parque e aí visitar os vários locais. Isso implica alugar um veículo se quiser ir de avião. Os aeroportos que, habitualmente, servem a região do Parque são o de Santander e o de Madrid, que estão, respetivamente, a cerca de duas e cinco horas de carro.  Ou seja, não poupará tempo, e muito menos dinheiro, indo de avião.

Dica 2 - Não precisa de reservar alojamento.
Todas as pequenas terriolas têm imensa oferta de alojamento. Coisas simples, sem luxos, mas confortáveis e que não estão nos sites de reserva.

Dica 3 - Tenha flexibilidade.
A região é de montanha e por isso o tempo pode estar mau num local mas 20 km à frente estar bom. Se estiver de chuva, não chore sobre o "leite derramado". Altere o percurso. Também por isto, é bom não "estar preso" a uma reserva de alojamento. Se não tem ainda, baixe para o telemóvel uma aplicação de meteorologia (mais à frente dou indicações sobre as webcam de vários locais para que possa perceber como está a visibilidade).

Dica 4 - Faça o máximo possível do percurso (de carro) em território espanhol.
Lembre-se que o combustível é em Espanha 30-35 cêntimos mais barato que em Portugal e que a maioria das auto-estradas espanholas não tem portagem. Por isso, saia do país na fronteira mais próxima que tiver.

Dica 5 - Tenha um GPS que funcione offline.
Se o seu carro não tem GPS, baixe para o seu telemóvel, caso ainda não tenha. Há várias aplicações destas na "loja".

Dica 6 - Não ache estranho o tempo indicado pelo GPS para os percursos de carro.
As estradas são de montanha e a paisagem é tão bonita que vai parar muitas vezes durante os percursos de carro. Isto significa que a tendência é para ser mais demorado e não menos.

Dica 7 - Se durante os percursos a pé tiver a intenção de fazer alguns almoços de sandes, não se esqueça de se preparar antecipadamente.
Leve uma faca, uma caixa, saco, guardanapos... Prepare-se psicologicamente, porque o pão espanhol continua horrível! (esta preparação não é imprescindível, há em todo o lado sítio para comer ou comprar comida).

Dica 8 - Se pretende visitar outras cidades para além do Parque (por ex. Zamora, Palência, Burgos, Salamanca...) faço-o à vinda.
Este conselho tem a ver com o facto de este roteiro ter como objetivo a visita aos Picos da Europa e ser bem provável que lhe apeteça ficar no Parque mais tempo do que o que inicialmente tinha previsto. Caso queira visitar outras cidades, veja antecipadamente a sua localização, de modo a ajustar esta rota.

O Parque tem centenas de km de percursos marcados. Existem dois tipos de percursos: os de senderismo (caminhada) - 32 percursos, em que o mais pequeno é de 2 km e o maior é de 58,6 km (pode fazer-se apenas parte) e os de alta montanha - 5 percursos. Estes últimos são de dificuldade elevada e apenas pessoas preparadas deverão fazê-los.
Existem quiosques de informação, que fornecem mapas e informações, em muitos locais. Não terá dificuldade em encontrá-los. Contudo, se quiser, pode visitar o site oficial do Parque aqui.

Fazendo o roteiro que deixo aqui apenas percorrerá a pé uma ínfima parte do Parque (daí ter dito que vai ter vontade de ficar mais tempo).

Percurso a fazer de carro, marcado a azul

O roteiro parte do princípio que estará em Riaño a meio da manhã. Adapte se não for esse o caso.

DIA 1

Paragem próximo de Riaño
Onde faz a paragem? Quando chegar vai perceber. Não precisa fazer desvios da estrada em que segue. A paisagem é bonita daí.
Riaño fica na confluência dos rios Esla e Yuso e foi construída nos anos 80 do séc. XX, para alojar os moradores da antiga Riaño, submersa pelas águas da barragem aí construída.
A construção da barragem neste vale foi muito polémica mas da albufeira resultou uma paisagem magnífica, pelo menos para quem só vai ver a paisagem.
Se já tiver pouco combustível, abasteça em Riaño porque na próxima paragem não há e amanhã vai fazer alguns km.

Continue, em direção a Posada de Valdeón. São cerca de 32 km e vai demorar 45 minutos (se não fizer muitas paragens). Vai passar novamente nesta estrada e portanto pode deixar algumas paragens para a volta.

Posada de Valdeón
Arranje alojamento aqui. 
A terra é pequenina mas tem sítio para comer e dormir. Tem também um local de informações sobre o Parque. Pode obter um mapa aí.

A Ruta del Cares (Cares é um rio) é uma das mais conhecidas. Liga Posada de Valdeón a Poncebos passando por Cain.
Para este primeira tarde sugiro que faça uma parte desta trilha.
Leve o carro até perto do vilarejo de Cain (pode deixá-lo antes da ponte, está lá um lugarinho mesmo bom para si) e faça a pé o trilho PR-PNPE. 3 em direção a Posada de Valdeón. Este percurso é de floresta e tem um pouco mais de 9 km. Faça até lhe apetecer. Depois, pode voltar pelo mesmo caminho ou pela estrada. Há ainda a possibilidade de iniciar o trilho em Posada e, desta forma, não levar o carro até Caín. 

O queijo e o cabrito desta região são famosos. Não se esqueça de os incluir no jantar.

Fotografias do dia:

Albufeira da barragem antes de chegar a Riaño

Albufeira da barragem antes de chegar a Riaño

Albufeira da barragem antes de chegar a Riaño

Paisagem de Riaño

Albufeira da barragem depois de Riaño

Antes de chegar a Posada de Valdeón

Posada de Valdeón

Início do primeiro trilho na rota de Cares. Vê-se Caín

Rota de Cares, de Caín para Posada de Valdeón


Rota de Cares, de Caín para Posada de Valdeón

Rota de Cares, de Caín para Posada de Valdeón

Montanhas vistas de Posada de Valdeón
Montanhas vistas de Posada de Valdeón


DIA 2

Acorde cedo, que o dia vai ser comprido.
Sugiro continuar na Ruta del Cares, agora o segmento Caín - Poncebes. Este troço tem cerca de 11 km. Pode fazê-lo todo e voltar a pé, se tiver coragem para os 22 km. Pode também ir até Poncebes e voltar a Caín de autocarro, mas nesse caso precisa de perguntar (em Caín ou Posada, por ex.) o horário dos autocarros, porque não existem muitos, e quanto tempo demoram a fazer o percurso, porque é bastante (qualquer coisa como 3 horas).

A minha sugestão é que deixe o carro em Cain e percorra por volta de 7 km (os percursos vão tendo a distância percorrida) e depois volte para trás.

Cangas de Onís
De Posada de Valdeón a Cangas de Onís são cerca de 60 km mas conte demorar cerca de 2 horas (a estrada é de montanha e aposto que vai parar uma série de vezes).

Amanhã irá aos Lagos de Covadonga e portanto pode dormir na cidade de Cangas de Onís ou entre esta a Covadonga (cerca de 10 km). Os alojamentos em Cangas de Onís são mais caros que nas terras mais pequenas. Por isso, pode optar por dormir num alojamento situado na estrada que liga Cangas a Poncebos, já depois o cruzamento para Covadonga.

Dê uma voltinha na cidade e se tiver tempo vá até Covadonga. Pode ir até à Basílica e ao Santuário, que fica numa gruta. Ficará também a perceber onde se localizam os parques de estacionamento onde deixará o seu carro amanhã.

Fotografias do dia:

Manhã em Posada de Valdeón

Rute del Cares (fonte:  https://en.wikipedia.org)

Rute del Cares (fonte: https://en.wikipedia.org)

A caminho de Cangas de Onís


A caminho de Cangas de Onís



A caminho de Cangas de Onís


A caminho de Cangas de Onís

Cangas de Onís

Basílica de Covadonga

DIA 3

Lagos de Covadonga
A melhor maneira de chegar aos lagos é de autocarro. Aliás, em algumas alturas do ano esta é a única forma de chegar a eles. De Covandonga até aos lagos são 12 km e o autocarro demora cerca de 30 minutos a fazer o percurso. Antes de chegar a Covadongo existem parques de estacionamento onde pode deixar o carro, comprar o bilhete e apanhar o autocarro. Também pode fazê-lo em Cangas de Onís mas, tendo em conta o percurso, deixar o carro num dos estacionamentos de Covadonga poupa tempo, uma vez que não vai voltar para trás. Então, a minha sugestão é levar o carro até Covadonga, mesmo que durma em Cangas.
O bilhete dos parques de estacionamento custa 2 € (dá para todo o dia) e o bilhete de autocaro custa 9 € (ida e volta). O primeiro autocarro sai às 8.00 h e o último sai dos lagos às 20.30h. Há autocarros mais ou menos a cada 15 minutos.

É importante que o tempo esteja limpo para que desfrute da paisagem. Além dos lagos, pode ver um vale em U de um antigo glaciar, um carso e um poldje.
Existem Webcam que mostram a visibilidade dos lagos. Pode ver aqui.

Uma vez nos lagos, há um quiosque de informação onde pode obter um mapa com os percursos. Desfrute a paisagem, percorrendo pelo menos parte dos vários trilhos que passam aqui. Perto de um dos lagos, há um restaurante. É uma boa ideia almoçar aí (o menu custa 12 €).

A meio da tarde desça dos lagos para Covadonga. Se no dia anterior não teve tempo para ir à Basílica e ao Santuário, não se esqueça de descer a tempo de os visitar. Por vezes, a fila para apanhar o autocarro é grande. Conte com isso. 
Se não seguir esta rota e não dispuser de todo o dia para estar nos lagos, conte que precisa de pelo menos 2 horas para fazer o percurso mínimo nos lagos.

Poncebos
Após visita dos lagos de Covadonga, dirija-se a Poncebos por estrada. São cerca de 40 km e vai demorar cerca de 30-40 minutos a fazer o percurso. Durma em Poncebos ou próximo.
Se não aprecia andar a "saltar" todos os dias de alojamento e a noite passada ficou nu que o agradou, opte por ficar aí também esta noite.

Fotografias do dia:


Região dos lagos de Covadonga

Região dos lagos de Covadonga

Carso

Lago

Lago

Lago

Lago

DIA 4

Funicular de Poncebo - Bulnes
Há um estacionamento junto ao funicular, mas na época alta é difícil de ter lugar. Experimente. 
O funicular funciona na época alta (verão e alguns fins de semana durante o ano) das 10.00h às 20.00h. No resto do ano, o horário é das 10.00h às 12.30h e das 14.00h às 18.00h. Há uma viagem a cada 30 minutos. A viagem não chega a demorar 10 minutos.
O bilhete de ida e volta custa 22,16 € mas o meu conselho é que compre só ida (17,61 €).

Bulnes é um aglomerado de umas 20 casas de pedra. Atualmente, todas, ou quase todas, estas casas estão direcionadas para o turismo, funcionando como restaurantes, bares ou alojamento.
Almoçar, ou pelo menos tomar um café, numa das esplanadas é bem agradável. Também pode comprar uma sandes e fazer o almoço no trilho que o vai levar novamente a Poncebo. 

Se optar por aproveitar o tempo para fazer mais um trilho a partir de Bulnes, saiba que de Bulnes a Poncebo, na Ruta de la Reconquista (GR 202), são pouco mais de 4 km mas conte com cerca duas horas para fazer o percurso (vai fazer muitas paragens).
Se for uma pessoa corajosa leve fato de banho. O rio tem o que no Alentejo se chama "pegos" e dá para tomar um banhinho. Claro que a água é gelada!

Siga para Potes. São quase 60 km e vai demorar perto de uma hora (a não ser que consiga ir sem nunca parar). 

Potes
Potes é uma cidade pequena mas bem agradável que fica fora do limite do Parque mas claramente  Desfrute.

Amanhã, a ideia é ir a Fuente Dé que dista 23 km de Potes (e cerca de 15 minutos). Fuente Dé apenas tem o teleférico e um hotel e, portanto, a minha sugestão é que fique em Potes ou Espinama (fica a 3,5 km de Fuente Dé).

Fotografias do dia:

Funicular de Poncebo - Bulnes

Bulnes

Bulnes

Caminho de Bulnes para Poncebo

Caminho de Bulnes para Poncebo

Caminho de Bulnes para Poncebo

Caminho de Bulnes para Poncebo


Caminho de Bulnes para Poncebo


Potes


Potes

Potes

Dia 5

Fuente Dé
O teleférico funciona das 9.00h até às 20.00h e sobe a 753 metros. Isto significa que se tem vertigens, o melhor é fechar os olhos! O bilhete de ida custa 11,00 e de ida e volta custa 17,00€. 
O tempo tem grande influência na visibilidade. Pode acompanhar o tempo aqui .

Depois de subir, há que optar: ou se volta a descer no teleférico ou se volta a pé.
No primeiro caso, pode ficar o tempo que considerar conveniente. Pode por exemplo, caminhar até ao refúgio real e ao refúgio Aliva (andará menos de 6 km, ida e volta).
No segundo caso, pode voltar a pé até Fuente Dé, onde deixou o carro e andará um pouco menos que 15 km. A rota é a PR-PNPE-24 Puertos de Áliva

Fotografias no dia:

Teleférico de Fuente Dé

Rota para Fuente Dé

Rota para Fuente Dé

Rota para Fuente Dé

Rota para Fuente Dé


Refúgio real

Rota para Fuente Dé

Rota para Fuente Dé

Rota para Fuente Dé

Rota para Fuente Dé

E agora, é voltar para casa ou conhecer mais um pouco de Espanha.

(Nota: os preços e horários são de Agosto de 2018).


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