Ciência e História - um roteiro pela região Centro de Portugal

O passeio que proponho será agradável para todos, mas tem particular interesse para famílias com crianças. Alia Ciência, Natureza e História e permite conhecer uma zona do país "menos emblemática" mas não menos interessante. Pode ser feito de uma só vez ou ser repartido. Dado que não se percorre uma distância muito grande, até pode voltar a casa para dormir, se viver na região Centro do país. 
Para visitar os locais que proponho não precisa de percorrer mais de 120 km, embora a distância possa aumentar por conveniência de roteiro. O ponto mais distante fica a cerca de 87 km de Lisboa.
O roteiro que proponho não é estanque, pode ser acrescentado ou reduzido, conforme a conveniência. Eu, por exemplo, não o fiz integralmente, daí que não sejam minhas todas as fotografias. Também eu tive de adaptar...


CONVENTO DE MAFRA

O convento de Mafra foi mandado construir no século XVIII, pelo Rei D. João V. Foi este rei que mandou também construir o aqueduto das águas livres de Lisboa e a biblioteca da Universidade de Coimbra, monumentos que poderão ser visitados numa próxima oportunidade. O Palácio Nacional de Mafra é o mais importante monumento do barroco em Portugal e acredita-se que a sua construção foi feita em cumprimento de um voto para obter sucessão do seu casamento com D. Maria Ana de Áustria ou a cura de uma doença de que o rei sofria. 

Construído em pedra lioz (calcário) da região, o edifício ocupa uma área de perto de quatro hectares, compreende 1200 divisões e inclui uma igreja, um convento e um palácio. Tal magnificência só foi possível devido ao ouro do Brasil, que  fazia de D. João V um dos monarcas mais ricos da Europa, no seu tempo.



É possível visitar a Basílica, cuja beleza e grandiosidade faz lembrar a Basílica de S. Pedro, em Roma.
Detenha a sua atenção para a cúpula, com 65 m de altura e 13 m de diâmetro e a primeira a ser construída em Portugal; para o conjunto único de seis órgãos encomendados por D. João VI; para as seis capelas colaterais; para os retábulos esculpidos em pedra e para o conjunto de esculturas italianas, a  maior coleção de escultura barroca existente fora de Itália, num total de 58 estátuas em mármore de Carrara.






Ocupado, na época das Guerras Peninsulares, pelas tropas francesas e depois pelas inglesas, o Convento foi desde 1841 até hoje, sucessivamente utilizado por diversos regimentos militares, sendo desde 1890 sede da Escola Prática de Infantaria e, atualmente, sede da Escola de Armas. A parte do Convento ocupada pela Escola de Armas apenas é visitável sob marcação. Contudo, é possível visitar outras áreas ocupadas inicialmente por 300 frades franciscanos, nomeadamente a botica, onde se preparavam os medicamentos, a cozinha da enfermaria (repare na forma como aqueciam a água), a enfermaria de doentes graves (repare que todas as camas estão voltadas para o altar, de modo aos doentes poderem assistir à missa), bem como a enfermaria dos "doentes loucos" (repare na cama).






A visita prossegue pelo Palácio Real, sendo o torreão Norte destinado ao Rei e o do Sul à Rainha. Os torreões estão ligados por uma longa passagem de 232 metros – o maior corredor palaciano na Europa- de onde mais ou menos a meio se pode ver o interior da Basílica.


O Palácio do Rei e o da Rainha funcionavam separadamente. Cada um tinha as suas cozinhas na cave, as despensas no piso térreo, os quartos dos Camaristas ou das Damas no 1º piso, os aposentos reais no piso nobre e o dos criados nos sótãos. 

Esta organização dos espaços manteve-se até à morte de D. Fernando, marido da rainha D. Maria II, quando toda a Família Real passou a habitar apenas o torreão da ala sul, ficando o torreão norte reservado a hóspedes importantes.
Ao longo da visita é possível  passar por diversas salas e entrar nos aposentos de D. João VI antes da corte partir para o Brasil e no quarto onde D. Manuel II passou a última noite, antes de partir para o exílio.
No dia que visitei o Palácio tive a sorte de haver figurantes, o que deu outro "colorido" ao espaço.








Palácio Nacional de Mafra possui uma das mais importantes bibliotecas portuguesas, com um valioso acervo de aproximadamente 36000 volumes.
A atestar a importância desta colecção, uma Bula concedida pelo Papa Bento XIV, em 1754, que, para além de proibir, sob pena de excomunhão, o desvio ou empréstimo de obras impressas ou manuscritas sem licença do Rei de Portugal, dava autorização à Biblioteca para incluir no seu acervo os livros proibidos pela Inquisição.
Um dado curioso são os visitantes noturnos da Biblioteca. Morcegos! Estes animais ajudam a preservar os livros já que se alimentam de traças.



  O Convento de Mafra é ainda famoso pelos seus dois carrilhões que são composto, no total, por noventa e oito sinos, o que os torna dos maiores carrilhões históricos do mundo. Em Maio de 2019, quando visitei o Convento, os carrilhões estavam a ser reparados, sendo previsível que num futuro próximo se possa assistir a concertos de carrilhão, como os que já há de órgão. Esteja atento ao programa.

Horários: 
               Palácio - das 09.30h às 17.30h (última entrada às 16.45h).
               Basílica: das 09.30 às 13.00h (última entrada 12.45h) e das 14.00 às 17.30h.

Dias de Encerramento: Terças-feiras e nos dias 1 de Janeiro, Domingo de Páscoa, 1 de Maio, Quinta-feira da Ascensão/Espiga (Feriado Municipal) e 25 de Dezembro.

Preço: Basílica - gratuito
Convento + Palácio + Biblioteca - 6,00 euros (adulto). 3,00 para maiores de 65 anos e 50% de desconto para famílias (1 adulto e 2 ou mais crianças até aos 18 anos). Entrada gratuita aos domingos de manhã e para crianças até 12 anos.

Há visitas guiadas - Memorial do Convento (1.º sábado de cada mês, às 14.30h) e Histórias de um Palácio do séc. XVIII ao final da monarquia (3.º sábado de cada mês, às 14.30h).
Para as visitas guiadas, a marcação prévia é obrigatória e acresce 5,00 € ao valor do bilhete de entrada. As visitas só se realizam com um número mínimo de 10 pessoas.

Tempo de visita: conte com duas horas.



TAPADA DE MAFRA (não visitei)

A Real Tapada de Mafra foi criada por D. João V para proporcionar um envolvimento ao Palácio Real, constituir um espaço de recreio e caça do Rei e da sua corte e ainda fornecer lenha e outros produtos ao Convento. Inicialmente tinha quase 1200 hectares e era rodeada por um muro com  21 km. Mais tarde, a Tapada foi dividida em três partes, estando atualmente uma delas sob administração militar.
Assim, a Tapada tem hoje um pouco mais de 830 hectares e tem como objetivos principais a investigação e preservação da fauna e da flora, a educação ambiental, a atividade cinegética e a prestação de serviços de turismo rural. Proporciona um programa variado, com atividades direcionadas a todas as idades, que vão desde os percursos a pé a uma experiência apícola.

Horário: Das 9.30h às 18.00h

Preço: Depende da atividade (há preços especiais para famílias)

Tempo de visita: desde 45 minutos a 2,5 horas, dependendo da atividade.

Para saber mais: site oficial

Fonte: https://commons.wikimedia.org

ALDEIA TÍPICA JOSÉ FRANCO

Muito perto de Mafra (a cerca de 3,5 km do Convento) fica a localidade de Sobreiro, onde se localiza a Aldeia típica José Franco, um oleiro que desde os anos 60 do séc. XX até à sua morte, em 2009, se dedicou à construção de uma réplica de uma aldeia rural típica. A aldeia mostra diferentes ofícios, utensílios e espaços de antigamente. É o caso da adega, o moinho, o barbeiro, o funileiro, o ferrador, a carpintaria e a mercearia (a loja da Ti Lena), entre outros. Se passeia em família pode ser interessante mostrar às crianças ou recordar com os mais velhos estes ofícios antigos. Pode ainda lanchar, já que há à venda filhoses e pão com chouriço.








Horário: Verão - das 9.30h às 19.00h; Inverno - das 9.30h às 18.00h.

Preço: Gratuito (os visitantes são convidados a deixar o que quiserem).

Tempo de visita: se leva crianças, conte, no máximo, com cerca de uma hora e meia. 

Para saber mais: site oficial


DINO PARQUE DA LOURINHÃ (não visitei)

O Dino Parque é um parque temático dedicado aos dinossauros, sendo, com 10 hectares, o maior museu ao ar livre em Portugal. Foi inaugurado em 2018 e situa-se na localidade de Abelheira (a cerca de 5 km a Norte da Lourinhã). O parque inclui 4 percursos correspondentes a importantes intervalos de tempo da história da Terra e da evolução da vida: fim da Era Paleozoica e os Períodos Triásico, Jurássico e Cretácico (da Era Mesozoica), ao longo dos quais se pode observar mais de 120 modelos de dinossauros e outros animais, à escala real. 
Para além dos percursos, é possível visitar a exposição no edifício central, que inclui as descobertas paleontológicas da região (sabia, por exemplo, que existe um ninho de dinossauro descoberto na Lourinhã, com mais de 100 ovos?), o laboratório, onde se pode observar a preparação de fósseis, e um pavilhão, onde os visitantes podem experimentar atividades relacionadas com a paleontologia.

Fonte: https://voucher.sapo.pt/lazer/todos/detail/33743

Horário: Abertura - todos os dias às 10.00h
Encerramento - às 17.00h de Outubro a Fevereiro (última entrada às 15.30h); às 18.00h, em Março, Abril e Maio ( última entrada às 16.30h); às 19.00h em Junho, Julho e Agosto (última entrada às 17.30h).

Preço: 11,70€ (adulto) e 8,91€ (criança até aos 12 anos).

Tempo de visita: não visitei mas pela hora da última entrada, conte com uma hora e meia - duas horas.

Para saber mais: site oficial


FORTE DE PENICHE

As obras do Forte de Peniche, que o transformará no Museu Nacional da Resistência e da Liberdade, estão em curso, tendo fim previsto para o final de 2020. Nessa altura será possível ver as celas dos presos políticos e o refeitório dos guardas, por exemplo. Contudo, já está aberto e é possível visitar.
Se vai com filhos, explique-lhes o que representa a Fortaleza ou Forte de Peniche. Será uma forma de preservar a memória coletiva e de contribuir para que não haja retrocessos naquilo que tomamos como certo.
Diga-lhes que no mural à entrada, inaugurado em Abril de 2019, estão escritos os nomes de 2510 pessoas que, entre 1934 e 1974, estiveram presas aqui. Conte-lhes que estas pessoas foram presas não por serem ladrões ou assassinos mas simplesmente porque pensavam de modo diferente do que o regime queria. Mostre-lhes o parlatório, local onde os presos recebiam visitas. E eram poucas as visitas porque, de autocarro, levava-se 4 horas de Lisboa a Peniche e todas as conversas eram ouvidas pelos guardas. Mostre-lhes o quadro com pessoas que foram presas por ajudarem presos e familiares, nomeadamente dando-lhe lugar para dormirem. Diga-lhes que chicharro com batatas era quase a única comida que os presos comiam. Depois mostre-lhes o Baluarte Redondo, área conhecida pelos presos como "O Segredo" e que funcionou como zona de isolamento para quem se "portava mal".
Conte-lhes que, apesar de ser uma prisão de alta segurança, houve várias fugas. Entre elas, a mais conhecida ocorreu a 3 de Janeiro de 1960 e fugiram 10 presos. Outra, foi a 4 de Dezembro de 1954, em que um preso, que se encontrava no "Segredo", escavou um buraco e atirou-se ao mar, nadando até à praia da Consolação (mestre-a, é a praia que se vê a Sul).
Já a terminar a visita, entre na igreja de Santa Bárbara e finalmente dê uma passagem pela exposição que, podendo não ser, à partida, muito apelativa para miúdos, se for explorada pode fornecer dados bem interessantes.






Horário: De quarta-feira a domingo, das 10.00h às 18.00h

Preço: Gratuito

Tempo de visita: Conte com cerca de uma hora.


CABO CARVOEIRO

Muito perto do Forte de Peniche (cerca de 3 km a Norte) encontra-se o cabo Carvoeiro. De lá pode avistar as Berlengas e observar as arribas esculpidas pelo mar, bem como o "rendilhado" da rocha calcária da superfície - campo de lapiás. Estas rochas formaram-se há cerca de 200 milhões de anos na chamada Bacia Lusitânica, cuja origem está associada à quebra da Pangeia e consequente abertura do Atlântico Norte. A dissolução da rocha pela água forma este modelado bastante característico das regiões calcárias. 
Também testemunho da abertura do oceano é a Papoa (há placas que assinalam) que não é mais do que um agregado de material vulcânico resultante da deposição de material expelido por um vulcão com fragmentos pertencentes às paredes de uma antiga chaminé vulcânica e ainda fragmentos de outras rochas formadas em profundidade e similares às que formam  as Berlengas e os Farilhões.





Tempo de visita: 30 - 45 minutos.

Ainda em Peniche poderá visitar o Museu da Renda de Bilros. Verdadeira ex-libris do artesanato penichense, a renda de bilros remonta ao séc. XVII, data dos primeiros documentos conhecidos referindo esta arte. O museu está aberto de terça a domingo das 10.00h às 13.00h e das 14.00h às 18.00h.


ÓBIDOS

 Óbidos é uma vila medieval bem pitoresca. Já ocupada antes de os romanos, a vila tornou-se mais próspera a partir do momento em que o rei D. Dinis a ofereceu à sua esposa, D. Isabel, no séc. XIII. Desde aí, ficou a pertencer à Casa das Rainhas que, ao longo das várias dinastias, a foram beneficiando e enriquecendo. 
Dentro de muralhas, existe um castelo e um labirinto de ruas e de casas brancas, com recantos que vale a pena visitar. São vários os monumentos que se podem visitar em Óbidos: a Igreja Matriz de Santa Maria, a Igreja da Misericórdia, a Igreja de São Pedro, o Pelourinho e, fora de muralhas, o Aqueduto e o Santuário do Senhor Jesus da Pedra, assim como o Museu Municipal de Óbidos, onde se encontram as obras de Josefa de Óbidos (pintora de referência do séc. XVII).
Ao longo do ano existem vários eventos na vila. Se a intenção não é participar em nenhum deles, escolha uma altura em que nenhum deles esteja a decorrer, de modo a evitar multidões.

Tempo de visita: muito variável, mas penso que duas horas chegará.

Perto de Óbidos fica a cidade de Caldas da Rainha. O Parque da cidade, o Museu Malhoa e o Hospital termal (o mais antigo do mundo) valem a visita.


BACALHÔA BUDDHA EDEN - QUINTA DOS LORIDOS (BOMBARRAL)

O Buddha Eden é o maior jardim oriental da Europa, com cerca de 35 hectares. O parque/jardim foi criado em protesto contra destruição dos Budas Gigantes de Bamyan.
No site oficial é afirmado que, entre budas, pagodes, estátuas de terracota e as diversas esculturas  colocadas entre a vegetação, se estima que tenham sido usadas mais de 6 mil toneladas de mármore e granito.
O Buda deitado e a escadaria central, bem como os 600 soldados de terracota (à semelhança dos de Xian), pintados à mão e o lago central são talvez o que chama mais a atenção dos visitantes mas não foi o que mais gostei. Realmente o que mais me impressionou foi a coleção de arte moderna, o jardim das esculturas africanas (com mais de 200 peças) e as esculturas representativas de animais africanos.
É possível percorrer o parque a pé e/ou de comboio mas atenção que o percursos de comboio não inclui a área das esculturas africanas nem da representação dos animais.

Apesar de ter gostado de conhecer o parque, aceito ser discutível a temática do parque e o facto de existirem tantas plantas exóticas. Também achei de gosto questionável a música dos comboios e duas esculturas: dois galos azuis, um com a cara de José Sócrates e outro com a de Cavaco Silva. Será porque eram os políticos que governavam o país na altura da criação do parque? não percebi o sentido...












Horário: Todos os dias (exceto 1 de Janeiro e 25 de Dezembro) das 9.00h às 18.00h.

Preço: Bilhete - 5,00 €; comboio -4,00 €. Gratuito para menores de 12 anos.

Tempo de vista: conte com pelo menos 2,5 horas (dá para ficar uma manhã ou uma tarde completa). Atenção que não é permitido fazer piqueniques. 

Para saber mais: site oficial

Vale a pena conhecer o parque, quanto mais não seja para perceber onde anda a ser gasto o seu (nosso) dinheiro... afinal o parque é propriedade de José Berardo... 


NOTA: Todos os preços e horários são de Maio de 2019.

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