Ilha da Madeira sozinha e sem carro, com dicas e gastos

Já tinha ido duas vezes à ilha da Madeira. Na primeira percorri os pontos principais da ilha de carro; na segunda, visitei a cidade do Funchal. Desta vez, o objetivo era fazer algumas levadas, indo sozinha e sem carro, durante cinco dias. 

Adiantando-me à conclusão, saliento:

  • A Madeira é um ótimo destino para mulheres que viajam sozinhas e para quem gosta de caminhar na Natureza.
  • Existem perto de 30 percursos marcados, de diferentes graus de dificuldade (podem ver o mapa aqui e a descrição aqui) e distribuídos por toda a ilha. Não há, por isso, necessidade nenhuma de fazer percursos não marcados.
  • Fazer os trilhos é seguro. Os percursos estão bem marcados, há carreiros e proteção nos locais onde existe perigo. Cumprindo as regras, o risco é mínimo.
  • Encontrei sempre gente ao longo de todos os trilhos e levadas que fiz.
  • Se o objetivo for apenas percorrer as levadas/trilhos, equacione se valerá a pena alugar carro. Vai passar a maior parte do dia nos trilhos e alguns são lineares, sendo possível não voltar para trás. Se não o quiser fazer, ter carro não anula a necessidade de chamar um táxi. 
  • No final dos percursos aparecem pessoas dispostas a partilhar táxi.
  • Não é preciso ter preparação física especial para fazer os percursos (pelo menos os que fiz), embora alguns sejam exigentes, tanto pela extensão como pelo terreno.

 
ALOJAMENTO  
Escolha do alojamento teve em conta três aspetos:

  • a localização - era importante que ficasse próximo do maior número de percursos possível e que estivesse servido de transportes públicos, já que não teria carro e pretendia usar o menos possível o serviço de táxi;
  • a comodidade - queria um quarto individual com casa de banho privativa e, se possível, com serventia de cozinha, onde pudesse fazer o pequeno almoço e sandes para o almoço;
  • o preço - indo sozinha, o custo do alojamento não seria dividido.
A seleção recaiu no Centro de Juventude de Santana (Pousada da Juventude - site aqui), cujo preçário para 2023 pode ser consultado aqui. A pousada tem boas condições, fica muito próximo de um supermercado (grande) e de uma paragem de autocarro e disponibiliza cozinha (apetrechada) e frigorífico onde se pode guardar comida. A única coisa "estranha" é que para entrar depois das 22h é necessário avisar. 
O alojamento custou-me 80€ (4 noites).

TRANSPORTES
Fui num voo com chegada prevista ao Funchal às 9.00h, numa quarta feira, e partida, no domingo seguinte, às 21.05h, o que me deu cinco dias completos (ou quase). Levei apenas uma mochila (fator importante tendo em consideração o percurso que fiz).
Estudei os horários dos autocarros (aqui) e (aqui) de modo a rentabilizar este recurso ao máximo.
O custo do voo foi de 66,98€.

DICA 1 - O território da ilha está dividido em várias áreas e cada uma delas está afeta a uma empresa de transportes. É necessário, por isso, consultar os horários das várias empresas de forma a conjugar.

DICA 2 - Tenha em atenção que os horários dos autocarros variam durante a semana e durante o ano. 


ALIMENTAÇÃO
Tomei sempre o pequeno almoço no alojamento e o almoço foi sandes. O jantar foi sempre num dos restaurantes de Santana.

DICA 3 - Se pretender fazer como eu, não se esqueça de levar na mochila onde acondicionar as sandes.

De seguida indico o programa de cada dia, o que correu bem e menos bem.

1.º DIA
Apanhei o autocarro no aeroporto do Funchal (a paragem fica em frente à porta de saída) e fui até Machico. Daí apanhei outro autocarro até Porto da Cruz. O bilhete compra-se ao motorista.
Em Porto da Cruz visitei os Engenhos do Norte (fábrica de rum) e daí fui, a pé, até ao Faial. O percurso tem à volta de 8 km mas grande parte é a subir. Depois de uma noite sem dormir (sou de Odemira e para apanhar o avião cedo, tive de sair de casa pouco depois das 2 da manhã) fazer o percurso sempre à beira de estrada (que nem sempre tem berma) e com mochila às costas, não foi fácil. No Faial, apanhei novamente o autocarro que me deixou em Santana. 
Gastei 5,85 € nos bilhetes de autocarro. 

DICA 4 - Se não conhece Santana, sugiro que em vez de fazer este percurso a pé, vá de autocarro até Santana (terá de mudar de autocarro em Machico e depois no Faial). Em Santana, além de visitar a terra, poderá ir até ao Parque Temático (site aqui).

DICA 5 - Quando entrar no autocarro no aeroporto diga ao motorista o seu destino final (mesmo que tenha de fazer transbordos). O bilhete vai sair mais barato.

FOTOS DO DIA
2.º DIA
Programei para este dia fazer a Levada do Caldeirão Verde (PR9).
A levada começa no Parque Florestal das Queimadas e a Pousada da Juventude está mesmo em frente da estrada que nos leva até ao parque. Comecei cheia de energia mas, quando passava à frente dos Bombeiros, a uns 100 metros do início, e vendo que a subida não terminava mais, a energia esvaneceu-se! comecei a equacionar se valeria a pena fazer a pé os mais de 4 km até ao início da levada. Mais à frente (cerca de 200 m) entrei num pequeno café, perguntei se me podiam chamar um táxi e o dono do café era também taxista. Estava o problema resolvido.
Depois do percurso, quando cheguei novamente ao ponto de partida telefonei ao taxista que me tinha levado e, desta forma voltei à pousada.
A levada tem na totalidade 8,7 km e é necessário caminhar de volta até ao início (são portanto 17,4 km). Se a quiser percorrer toda conte com pelo menos seis horas de caminhada. Espere ver Floresta Laurissilva (património da UNESCO), muitas cascatas, vales e acompanhar a levada. 
Gastei 15 € no táxi.

DICA 6 - Se fizer esta levada, não se esqueça de levar lanterna. Vai passar por túneis compridos e ela vai ser precisa.

DICA 7 - A levada tem dois pontos chave, o primeiro é o Caldeirão Verde e o segundo é o Caldeirão do Inferno (caldeirão é um garganta fluvial muito estreita, de vertentes quase verticais). Depois de chegar ao Caldeirão Verde ainda é preciso percorrer 2,2 km para chegar ao Caldeirão do Inferno (ou seja 4,4 km, ida e volta). Avalie bem o seu estado físico porque esta última parte é mais difícil, havendo a certa altura mais de 300 degraus, na ida para subir e na volta para descer.

FOTOS DO DIA
3.º DIA
Este dia foi destinado para fazer os trilhos PR1 e PR1.2, ou seja, a Vereda do Areeiro, que liga o Pico do Areeiro ao Pico Ruivo, e a Vereda do Pico Ruivo, que liga o Pico Ruivo à Achada do Teixeira. Para chegar ao Pico do Areeiro apanhei o autocarro que sai de Santana às 6.17 h, até ao Poiso (chega às 7.05h), e depois percorri a pé o caminho até ao início da vereda (são à volta de 6,5 km). O caminho faz-se bem mas demorei cerca de duas horas a fazê-lo.
O percurso (desde o Pico do Areeiro até à Achada do Teixeira) tem cerca de 9 km e conte com aproximadamente quatro horas para o fazer. Depois de andar mais de 15 km, é claro que não fiz o caminho inverso. Da Achada do Teixeira telefonei para o táxi e assim fui até Santana.
A Vereda do Areeiro é um trilho espetacular. Quem se interessa por geologia vai adorar. Porém, não é dos mais fáceis, uma vez que há muitos degraus para subir e descer.
Gastei 3,25€ no bilhete de autocarro e 15,00€ no táxi (para quem tem um carro, terá de voltar de táxi até ao Pico do Areeiro, o que custará pelo menos 30€).

DICA 8 - Se tem problemas sérios de vertigens, equacione não fazer este trilho. As zonas do trajeto com risco têm corrimão e senti segurança mas para uma pessoa com vertigens pode não ser fácil.

FOTOS DO DIA


4.º DIA
Programei para este 4.º dia fazer a Vereda dos Balcões (PR11), com apenas 1,5 km (3,0 km ida e volta). Se me sentisse bem continuaria e fazia a Levada do Furado (PR10), com 11 km. O plano era apanhar o autocarro em Santana às 6.45h e ir até Ribeiro Frio (chega às 7.25h), fazer a Vereda dos Balcões e voltar e depois ir de Ribeiro Frio até à Portela (Levada do Furado) e daí apanhar o autocarro até Santana. Porém, nada disto aconteceu porque... perdi o autocarro! (veja porquê na dica 9).
Mudei rapidamente de planos, apanhei o autocarro que vai para Arcos de São Jorge, parei em Chão da Felpa e fui fazer a Levada do Rei (PR18). O caminho que o autocarro faz é interessante pelas enormes escarpas que se veem. 
A Levada do Rei começa na ETA de São Jorge e termina no Ribeiro Bonito, tem 5,3 km (10,6 km ida e volta) e é fácil de fazer. Conte com cerca de três horas e meia para a fazer (mais uma hora para ir e voltar desde a paragem de autocarro ao início da levada). 
Como terminei no início da tarde apanhei novamente o autocarro e fui até Arcos de S. Jorge. Uma paisagem que faz lembrar muito os Açores. Mais tarde, também de autocarro, voltei a Santana.
Gastei 5,20 € em bilhetes de autocarro.

DICA 9 - Os horários dos autocarros em Santana dizem respeito ao centro da localidade. A pousada fica numa extremidade da terra e portanto conte com menos ou mais 10-15 min. relativamente ao horário indicado, dependendo do sentido em que segue o autocarro.

DICA 10 - Se fizer esta levada, diga ao motorista do autocarro onde quer ir. A paragem é mesmo em frente ao caminho. Depois é só seguir as indicações.

FOTOS DO DIA
5.º DIA
Este foi o dia da despedida e ia ser longo, sobretudo porque era domingo e o número de carreiras diminui drasticamente. Saí da pousada, de mochila às costas, para apanhar o 1º autocarro no centro de Santana, com destino ao Faial. Aí (depois de uma espera) apanhei outro para a central de camionagem de Machico e, por último (mais uma espera) apanhei o que me levou à Baía d’Abra, onde começa a Vereda da Ponta de São Lourenço (PR8). Quando cheguei ao princípio do trilho já passava do meio dia. Valeu a pena, porque o percurso é espetacular, embora o calor e a mochila não o tenha tornado fácil. A vereda tem aproximadamente 4 km se for mesmo até ao final (são portanto 8 km) e, se não fizer paragem para banho, conte com perto de 4 horas para ir e voltar.
No final da tarde apanhei o último autocarro que me levou aeroporto. Estava cansada mas feliz!
Neste dia gastei, em bilhetes de autocarro, 7,80 €.

DICA 11 - Ao domingo, o centro de camionagem está fechado mas se fizer o percurso durante a semana pergunte se pode deixar lá a mochila. Vai agradecer não a levar consigo. Esta opção tem o inconveniente de, na volta, ter de parar lá para ir buscar a mochila.

DICA 12 - Se fizer este trilho, não se esqueça de levar fato de banho, vai ter vontade de dar um mergulho numa das praias.

FOTOS DO DIA

ÚLTIMA DICA - Instale a App WalkMe no telemóvel. É uma aplicação com os trilhos, opiniões, webcams... Pode dar jeito.

Boa viagem!


Nota: esta viagem foi feita em julho de 2022.

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