Regras e dicas para poupar ao longo do ano

Viajar é caro! Certo e errado, depende!
Depende do tipo de viagem que se faz, como escrevi aqui. Depende do hotel que se escolhe, onde se come, das comodidades que se quer, do que se pretende visitar e como se quer visitar...
Independentemente disso tudo, viajar exige, claro, algum dinheiro e muita gente precisa de poupar, ou pelo menos, de controlar os gastos, para o poder fazer. É a essas pessoas que dedico este artigo. 

Nesta altura estarão a pensar que os sites de viagens estão cheias de dicas para poupar dinheiro durante o ano. É verdade, mas chego ao fim de todos esses artigos e concluo que poderiam ter apenas uma frase: deixe de viver e poupará imenso! Não contem comigo para isso. Se viajar depender de abdicar de todos os meus pequenos prazeres diários, então prefiro não viajar. Deixar simultaneamente de ir ao cinema, beber café, jantar fora, de ter carro, de...de...de... aguenta-se um mês e a seguir esquecemos. É mais ou menos como as dietas alimentares muito restritivas: seguimos à risca na primeira semana e na segunda comemos a dobrar. As dicas que proponho, com exceção de uma, são formas de poupar dinheiro sem que com isso seja necessário mudar de vida. 

O que escreverei tem por base a minha experiência e um artigo de jornal sobre o que o prémio Nobel da Economia 2017 diz sobre o assunto.
Na verdade, o que escreverei não é necessariamente o que eu faço. É mais o que eu gostaria de fazer. Também não vou inventar a roda. Este artigo tem a intenção de lembrar o que insistimos em esquecer.  

Nem todas as dicas servirão para toda a gente, mas verá que lhe cabem pelo menos meia dúzia.

REGRAS BÁSICAS PARA POUPAR:

1) Não seja demasiado ambicioso na intenção de poupar

Podia dizer isto de outra maneira: Não queira ser quem de facto não é, ou não faça planos para um tipo de vida que realmente não quer. De grandes intenções está o inferno cheio. Ser demasiado rígido só vai ter como consequência cansar-se e acabar com a poupança num instante. Então, o conselho é faça um plano realista. Melhor ainda: faça com que não seja preciso haver plano!

2) Esqueça o porquinho mealheiro

Esta regra é polémica! Para mim, aqueles planos de pôr X dinheiro, por dia ou semana, num mealheiro, não funcionam. Se esse dinheiro não resultar de um gasto que não se fez, é apenas transferência de dinheiro de um sítio para outro. Verá que, primeiro, aparecerá uma despesa extra que servirá de boa desculpa para não pôr o dinheiro estipulado no mealheiro e, depois, numa semana de maior aperto, abre o mealheiro e tira o que juntou até aí. É ou não é?
Se poupar se tornar uma coisa natural, vai ver que não precisa de porquinho. No entanto, haverá uma dica em que recomendo o porquinho mealheiro.

Fonte: https://pt.freeimages.com/

3) Vinte euros são vinte euros

Já reparou que quando se propõe a comprar uma coisa de valor baixo vai a uma loja e não a outra porque há uma diferença de preços de 20€, mas se o valor da compra for alto já descura o facto de na loja ao lado ser mais barato os mesmos 20€.

Vamos a um exemplo concreto (tenho a certeza que se vai rever nele): Vou comprar umas calças, vejo numa loja e custam 80€ e vejo noutra e custam 60€. Onde vou comprar? na segunda porque é mais barato. Agora, vou comprar um computador. Num sítio custa 800€ e noutro custa 780€. Onde compro? na primeira que entrar porque afinal o preço não faz grande diferença! Então não pouparia os mesmos vinte euros?

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4) Tenha um objetivo
Esta regra não serve para todos. Para alguns, ter um objetivo dá foco e aumenta a vontade de poupar. Para outros, traz a ideia de sacrifício. Eu pertenço ao segundo grupo. Se não compro isto e não faço aquilo para poupar para aquele objetivo, começo a ter raiva do objetivo e rapidamente acabo com ele. Se é como eu, esqueça esta regra. A ideia é tornar a poupança uma coisa natural, sem que estejamos permanente a pensar que estamos a poupar.

5) Grão a grão enche a galinha o papo

Segundo o prémio Nobel da Economia 2017, Richard Thaler, e eu acho que tem razão, a maior parte das despesas desnecessárias, e em que se podia economizar, é feita em compras de pequeno valor. "São só 5€, vou levar" mas de 5 em 5, ao final do mês e do ano são às vezes centenas de euros que desapareceram sem sabermos como.

6) Deixe para amanhã o que pode comprar hoje

O prémio Nobel da Economia de 2017 dá como conselho para economizar, que cada um estabeleça um valor a partir do qual só efetivará a compra no dia seguinte a ter pensado fazê-la. Por exemplo, se estabeleço 50 € como valor, todas as compras que faça desse valor ou mais só as realizarei no dia seguinte a ter pensado fazê-las. Esta regra pode-se aplicar a todos os valores e é particularmente importante para as compras online (falarei mais à frente).

Quantas vezes já comprou uma coisa não porque precisava dela mas porque era barata? Pense bem... se calhar muitas! É neste tipo de despesas que me vou concentrar e não tanto em grandes despesas porque nestas somos, habitualmente, mais cuidadosos.

DICAS

1) Contas bancárias

Quantas contas bancárias tem?

- Uma? então esta dica não se aplica a si.

- Mais do que uma? então reflita. Precisa mesmo de ter mais de uma conta?

Sabia que os bancos cobram 4 - 5€ por mês de comissão de conta? Ao fim do ano são pelo menos 50 €. Se tiver um cartão multibanco da conta são mais 25-30€. Se acabar com a conta extra está a poupar pelo menos 75 € por ano. 

2) Canais de televisão pagos
Tem canais de tv extra? faz uso deles?

Se faz uso, pronto, tudo bem (mas mesmo assim, será que usa mesmo o suficiente para valer o que paga por mês?). Se não faz uso, também já sabe o que fazer. A inércia vem sobretudo com a resposta "mais ou menos". Normalmente, este "mais ou menos" significa que tem grandes intenções de usar, mas fica pelas intenções e não quer admitir. Não sei quanto é o "pouco mais que um cafezinho por dia" que quem vende anuncia, mas provavelmente economizará pelo menos uns 60 € por ano.

3) Portagens 

Não estou a sugerir que não use auto-estradas ou SCUT naqueles dias em que parece que toda a gente resolveu andar de carro, ou naqueles troços que são impossíveis fazer tantas são as curvas ou os buracos. Estou a falar daqueles dias que tanto faz chegar 20 minutos mais cedo ou mais tarde. Porque não, nessas situações, fazer o percurso todo, ou pelo menos parte dele, em estradas nacionais? Além da portagem, economiza-se também no combustível. No meu caso, fazendo as contas por alto, economizo, desta forma, mais de 100 € por ano.

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4) Despesas caseiras
Estou a falar das despesas de casa, como água, luz e gás. Comportamentos simples como fechar a torneira enquanto nos ensaboamos no banho ou lavamos os dentes; não deixar as televisões em stand by durante a noite; desligar as lâmpadas nos compartimentos em que não está ninguém; ligar apenas as máquinas de lavar apenas quando cheias; desligar o esquentador depois de usar a água quente ou mesmo substituir o esquentador por um "inteligente"; usar a água da lavagem de legumes para regar as plantas; usar mais vezes a panela de pressão; não passar a ferro uma peça de cada vez e não passar o que não é preciso e todas as coisas que todos sabemos mas que nem sempre fazemos....
Nesta secção podemos ainda incluir fazer uma simulação no site da EDP (aqui) para verificar qual o regime (simples, bi-horário ou tri-horário) é mais conveniente para cada um. Vai uma aposta que estas medidas o farão poupar 5€ por mês em água, luz e gás? serão 60 € por ano!

5) Comida e bebida em casa
Não vou sugerir que coma e beba menos! Estou a falar daquelas coisas que todos sabemos mas que fingimos não ser para nós. Vamos refletir um pouco:
- Comidas pré-feitas. Estará a pensar que não é pessoa de comprar comida já feita (cheia de gordura, açúcar e aditivos) e quando o faz é porque tem mesmo de ser. Até pode ser, mas veja bem na sua despensa e frigorífico, não haverá por aí enlatados dispensáveis? estou a falar, por exemplo, de latas de grão e feijão (na minha há, por isso me lembrei...). Só para dar um exemplo, uma lata pequena de grão custa o mesmo de meio quilo de grão seco e este, uma vez cozido, corresponderá a pelo menos cinco latas. E batatas fritas congeladas? e polpa de tomate? Congele tomate na época dele, descascar umas batas não demora nada, coza grão e feijão e congele várias doses.
- Comida que sobra, faz estágio no frigorífico e acaba no lixo. Aquele pacote de queijo ralado que se abriu e ficou esquecido; aquele resto de sopa que ninguém se lembrou mais; aquela alface de que se tirou 3 folhas, aquela fruta que ninguém comeu, aquelas cebolas que criaram grelo e já estão mais pra lá do que pra cá, etc, etc. A sugestão é comprar menos quantidade (afinal há supermercados em cada esquina), congelar tudo o que sobre e possa ser congelado, fazer aproveitamentos e gerir melhor o frigorífico e a despensa.
- Novidades. Quantas vezes vos aconteceu comprarem novidades no supermercado e depois aquela comida, porque não faz parte dos vossos hábitos, fica esquecida na despensa até perder a validade? A sugestão é que comprem apenas uma novidade de cada vez e que a consumam logo após a terem comprado.
- Bolachas, bolachinhas e afins. Já pensaram na quantidade de dinheiro que gastam neste tipo de coisas? Sobretudo quem tem filhos, e pelo que vejo nos supermercados, estes "aperitivos", como eu lhes chamo, levam uma boa fatia do orçamento gasto no supermercado. E que tal fazer umas bolachinhas ou uns biscoitos em casa? Se têm filhos esta pode ser uma ótima maneira de os entusiasmar pela cozinha e tirá-los dos telemóveis. Pensem nisso.
Digo-vos que uma despensa bem gerida e compras racionais permitem poupar seguramente mais de 100 € por ano.

6) Comida fora de casa
Não vou dizer para deixarem de jantar fora se isso acontecer de vez em quando. Se for um hábito semanal... pois...se calhar é melhor rever as suas prioridades. Todavia, há muita gente que até não almoça ou janta muitas vezes em restaurantes  mas que se esquece que um pequeno almoço ou um lanche é incomparavelmente mais caro num café ou pastelaria do que em casa. Toda a gente sabe disto, mas já fez as contas de quanto gasta por semana em pequenos almoços e lanches? Faça e multiplique pelas semanas do ano. Veja quanto gastaria se fizesse essas refeições em casa (não se esqueça que um pão de 400 g custa à volta de 0,70 €). Eu sei que nem toda a gente pode lanchar em casa. Nesse caso, já pensou em alternativas? Também há pessoas para quem tomar o pequeno almoço com os colegas é uma espécie de ritual. Nesse caso, chegue ao sítio do costume 10 minutos mais tarde, tomará o café com eles e não sentirá diferença a não ser na carteira.

7) Compras na internet.
Se é fácil comprar por impulso em lojas físicas, na internet ainda é mais fácil, afinal tudo está à distância de um clique! Quem não teve já vontade de comprar a blusa ou sapatos tão giros que apareceram no facebook? Dou 2 sugestões:
- Não gravarem o número do cartão de crédito no computador. Para além das questões de segurança, quanto mais fácil for fazer a compra menos tempo pensamos e mais facilmente compramos mesmo o que não é preciso.
- Não comprarem no dia que pesquisam. Guardem o artigo no "cesto das compras" e efetivem a compra só no dia seguinte. Verão que metade das compras nem se vão lembrar no dia seguinte.

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8) Será que precisamos de mais uma blusa?

Já contabilizaram o número de calças ou de camisolas/t-shirts/blusas/sapatos/malas que têm? e quantas usam?

A sério, vale a pena ir ao roupeiro e contar. Aposto que vão descobrir artigos que já nem se lembravam que tinham e que têm o triplo do que precisam e que realmente usam. Não vale dizer que são coisas baratas. Somem e vejam o dinheiro que gastaram sem necessidade. Conselho: resistam, resistam, resistam... mesmo que seja barato. De cada vez que deixarem de comprar uma peça, guardem o dinheiro no tal porquinho mealheiro, se o tiverem. Mas não vale comprar no dia seguinte! Vai uma aposta que ao final de um ano pouparam mais de 200 €?

9) Descontos

Algumas empresas de combustíveis têm um dia que fazem descontos. Criem o hábito de abastecer o carro nesse dia. A poupança pode ser de 3 € por depósito. Não é muito, é certo, mas já fizeram as contas à poupança anual? Aproveitem os cupões e as promoções dos supermercados, mas atenção: não comprem o que não precisam, só porque está mais barato! É isso que os supermercados querem! Comprem o que gastam habitualmente e, aquilo que não se estraga, comprem em maior quantidade.

10) Pedir fatura com contribuinte

Vejo muita gente a ser displicente em relação a este assunto. Realmente a poupança não é muita quando comparada com o valor de IRS que a maioria das pessoas paga, mas lembrem-se da regra número 3. Facilmente se atinge 300 € de dedução (250 € das despesas gerais e mais 50 € de outras rubricas) e 300 € são 300 €!

11) Deixar de fumar 

Esta é a única dica que realmente implica uma mudança de vida e para a qual acho útil ter um porquinho mealheiro. Quem fuma já contabilizou quanto custa o vício? Além dos custos em saúde, que são os principais, fumar custa, para a maioria das pessoas que fuma, mais de 1500 € por ano. Consegue voos para Sidney, ida e volta, por 800 €. Já pensou nisso? Durante o tempo que está a deixar de fumar e que está a sofrer por isso, ponha o dinheiro que gastaria em tabaco num recipiente de preferência transparente para que possa ver o dinheiro. E no final de um ano, pegue no dinheiro e gaste-o numa coisa que dê realmente gozo. Vai ver que lhe vai saber bem!

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Estas são algumas formas de racionar as despesas, haverá muitas outras, dependendo das pessoas, e algumas das que indico não se aplicaram a si. Mas, aproveite e faça uma espécie de auditoria aos seus gastos. Vai ver que encontra "gordurinhas".
Quanto a mim... vou fazer o mesmo!