China: 15 mitos e verdades
A China é um país enorme e o mais populoso do mundo. Resulta da união de várias regiões, é constituído por mais de 50 etnias e o idioma falado inclui 5 dialetos, sendo o mandarim o principal. Conflitos internos e ocupações externas marcaram a história do país.
Estive 18 dias na China. Fui como turista. Não tive interação direta com a população em geral e andei quase sempre em locais essencialmente turísticos.
Feita esta "declaração de interesse" é fácil perceber que tudo o que escreverei poderá ser rebatido porque resulta de apenas do que vi e percepcionei, não tendo por base, a maior parte das vezes, dados factuais e imparciais que o sustentem. São opiniões! Valem, portanto, o que valem!
Quase todos os itens a que me refiro partem de ideias pré-feitas que eu própria tinha antes de partir para a China, ou são curiosidades que muitos de nós temos.
Então aqui vai.
1- Os chineses são todos iguais
MITO. Os preconceitos são tramados. Como muitos, tinha a ideia que os chineses são todos iguais: atarracadinhos, de cabelo escuro e liso. Nada disso! Estive em cidades como Pequim e Chengdu e em sítios mais recônditos, como Songpan. Nesta última localidade, a fisionomia dos locais é bastante característica e diferente do que vi no resto do país. Têm a pele mais escura e um formato de rosto mais semelhante aos tibetanos. Nas cidades vi pessoas de todos os tipos, em que apenas pelos olhos percebemos que são chineses. Do que vi, a única característica que realmente é comum a toda a população é o facto de terem cabelo escuro.
2- Os chineses vestem-se de forma monocromática
MITO. Talvez porque as imagens que nos aparecem nos livros escolares mostrem dirigentes e população em geral dos anos 40 ou 50 do séc. passado, algumas pessoas ainda têm a ideia que os chineses, ou pelo menos os mais pobres, se vestem com uma espécie de uniforme acinzentado. Não. Toda a gente se veste como nós. Contudo, nos lugares mais remotos ainda é possível ver pessoas comuns vestidas com trajes tradicionais (e não, não estão vestidas para a fotografia!).
3- Os chineses cospem no chão
VERDADE. Faz muita impressão, mas é verdade. Sobretudo os homens cospem em todo o lado, mesmo em chão ladrilhado.
4- Os chineses não falam inglês
VERDADE. Em geral, as pessoas não falam inglês, nem muitas vezes as que trabalham em hotéis ou outros locais muito frequentados por estrangeiros. Nestes casos, todos estão preparados com aplicações de tradução no telemóvel e fazem uso delas. Contudo, percebemos que a situação está a alterar-se nas gerações mais novas, que já estudam inglês na escola.
5- Os chineses são um povo "zen"
MITO. Confesso que vendo as danças tradicionais, sabendo do hábito de fazerem tai chi pela manhã e depreendendo das expressões "paciência de chinês" ou "tortura de chinês", tinha a ideia que os chineses eram um povo calmo, paciente e que faz pouco alarido. A minha convicção começou a ser abalada quando, pouco tempo após ter chegado a Pequim, um espanhol me diz que já não aguentava ouvir os chineses, que eram muito barulhentos (nas palavras dele "mui escandalosos"😏). Pude confirmar que realmente o espanhol tinha razão. Os chineses são barulhentos, falam alto e de uma forma que, à primeira vista, parecem estar zangados. Contudo, é curioso que poucos se chateiam quando são ultrapassados por alguém que não respeita a fila!
6- Na China, os telemóveis têm teclas com os caracteres chineses
MITO. Os telemóveis dos chineses são iguais aos nossos, muitos deles são até das mesmas marcas (por exemplo aquela da maçã 😉) e os chineses estão sempre ao telemóvel!
Pelo que percebi, existem duas formas dos chineses escreverem no telemóvel (sms, por exemplo). Uma é através da transliteração no alfabeto latino do som das palavras chinesas, isto é, as pessoas escrevem no nosso alfabeto o som das palavras e o símbolo chinês do que querem dizer é mostrado no telemóvel. O outro método que assisti é escreverem com o dedo os símbolos, que depois aparecem no ecran. Apesar de ser um processo rápido, é muito frequente (mais do que cá) ver as pessoas a enviar e receber mensagens faladas.
7- As redes sociais estão bloqueadas na China
VERDADE. Apesar de serem frequentes as marcas americanas, há ferramentas com origem aí que não são usadas facilmente. O Google e as redes sociais são dois exemplos. Usar o Facebook, o Instagram, o Whatsapp, por exemplo, não é possível, a não ser que se contorne (engane) o sistema. Para todas elas existem uma versão chinesa.
8- A China é uma enorme e pobre "loja de chinês"
MITO. Não vou dizer que não vi lojas do género das que associamos a "loja de chinês". Vi, sobretudo nas localidades mais pequenas, mas encontrei, mais do que esperava, ruas de comércio a fazer inveja às melhores avenidas de Londres ou Nova Iorque, com lojas onde a minha carteira não me permite entrar. Vi Prada, Louis Viton, Omega, Cartier, Ferrari, Porche, etc. etc. Nos centros comerciais, existem muitas das marcas que se vêem cá, vi comércio para todas as bolsas e há de tudo (variedade e quantidade) nos supermercados.
9- As infraestruturas e os transportes públicos são de um país do terceiro mundo
MITO. As estradas por onde andei são ótimas, mesmo nos locais mais remotos onde fui (muito melhores do que aquelas que uso todos os dias). Os aeroportos são equiparados aos da Europa (portanto muito melhores do que o de Lisboa, por exemplo), o metro é moderno e nas alturas de maior afluência tem uma frequência que chega a ser de menos de 1 minuto. Fiquei particularmente espantada com a pontualidade dos comboios e com a organização e facilidade de utilização das estações, que estão organizadas à semelhança do que se faz nos aeroportos. Relativamente aos autocarros não me posso pronunciar, uma vez que apenas os utilizei para uma pequena viagem.
10- Na China, a segurança é apertada
VERDADE. Senti uma segurança reforçada sobretudo nas ruas, onde há por todo o lado câmaras de filmar (os chineses chamam "polícia eletrónica") e muitos polícias, no metro, onde, além de muitos funcionários nas estações e dentro das carruagens, todas as bagagens passam pelo raio-X e os passageiros pelo detetor de metais e nos aeroportos, onde a segurança é mais apertada do que estamos habituados na Europa. Contudo, no metro, não sei se o nível de segurança efetivo acompanha a percepção de segurança que o procedimento dá à população.
11- Quem já comeu num restaurante chinês na Europa conhece a comida chinesa
MITO. Tirando os balões à porta dos restaurantes, nada há mais nada de semelhante entre os restaurantes na China e os restaurantes chineses em Portugal ou no resto da Europa (pelo menos dos que conheço). Tirando os restaurantes de fast food, na maioria dos restaurantes locais trazem chá mal nós nos sentamos e não perguntam o que queremos beber. Nas ementas não se vêem os tão "tradicionais" crepes nem a galinha com amêndoa (nem quase nada do resto). Por outro lado, pratos de massa são comuns e a variedade de cogumelos em algumas regiões é enorme. E não, não se come cão em todo lado. Por onde andámos não encontrámos.
12- Na China não é possível comer outro tipo de comida que não seja a chinesa
MITO. É verdade que a maioria dos restaurante é de comida chinesa mas há restaurantes com outros tipos de comida. Além disso, há supermercados com uma secção de comida e há uma vastíssima oferta de restaurantes fast food, quer de marcas nacionais quer de cadeias internacionais bem conhecidas. Mas há uma curiosidade. Em poucos sítios há hambúrgueres como nós os conhecemos por cá. Por lá, são na sua maioria panados.
13- As casas de banho públicas não são o que há de melhor na China
VERDADE. Há muitas casas de banho públicas mas também não é raro um restaurante não ter casa de banho. E sim, são quase todas muito más.
14- Nas grandes cidades, os gases dos veículos tornam o ar irrespirável
MITO. É certo que não andei com um medidor de poluição mas mesmo em Pequim, o nível de poluição não foi tão elevado que se sentisse (provavelmente tivemos sorte). Nas cidades, o trânsito de carros é intenso (mas não caótico) mas o número de motoretas é incomparavelmente menor do que já vi noutros países asiáticos e são, pelo menos nas cidades maiores onde estivemos, quase na totalidade elétricas.
15- As indicações em chinês tornam impossíveis as viagens por conta própria
MITO. Não posso dizer que a China seja o país mais fácil de se viajar por conta própria, mas a dificuldade não está nas indicações em caracteres chineses. Nos locais por onde andámos foi raro encontrar alguma coisa que não estivesse traduzida no nosso alfabeto. A dificuldade prende-se muito mais com a dimensão do país e das cidades, com a dificuldade em comunicar já que as pessoas não falam inglês e, sobretudo, com o número de turistas (maioritariamente chineses) que tornam imprevisível o tempo que se demorará a visitar os locais.
Feita esta "declaração de interesse" é fácil perceber que tudo o que escreverei poderá ser rebatido porque resulta de apenas do que vi e percepcionei, não tendo por base, a maior parte das vezes, dados factuais e imparciais que o sustentem. São opiniões! Valem, portanto, o que valem!
Quase todos os itens a que me refiro partem de ideias pré-feitas que eu própria tinha antes de partir para a China, ou são curiosidades que muitos de nós temos.
Então aqui vai.
1- Os chineses são todos iguais
MITO. Os preconceitos são tramados. Como muitos, tinha a ideia que os chineses são todos iguais: atarracadinhos, de cabelo escuro e liso. Nada disso! Estive em cidades como Pequim e Chengdu e em sítios mais recônditos, como Songpan. Nesta última localidade, a fisionomia dos locais é bastante característica e diferente do que vi no resto do país. Têm a pele mais escura e um formato de rosto mais semelhante aos tibetanos. Nas cidades vi pessoas de todos os tipos, em que apenas pelos olhos percebemos que são chineses. Do que vi, a única característica que realmente é comum a toda a população é o facto de terem cabelo escuro.
2- Os chineses vestem-se de forma monocromática
MITO. Talvez porque as imagens que nos aparecem nos livros escolares mostrem dirigentes e população em geral dos anos 40 ou 50 do séc. passado, algumas pessoas ainda têm a ideia que os chineses, ou pelo menos os mais pobres, se vestem com uma espécie de uniforme acinzentado. Não. Toda a gente se veste como nós. Contudo, nos lugares mais remotos ainda é possível ver pessoas comuns vestidas com trajes tradicionais (e não, não estão vestidas para a fotografia!).
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| Habitantes de Songpan, localidade próxima do Tibete. A senhora usa os enfeites típicos da região. |
3- Os chineses cospem no chão
VERDADE. Faz muita impressão, mas é verdade. Sobretudo os homens cospem em todo o lado, mesmo em chão ladrilhado.
4- Os chineses não falam inglês
VERDADE. Em geral, as pessoas não falam inglês, nem muitas vezes as que trabalham em hotéis ou outros locais muito frequentados por estrangeiros. Nestes casos, todos estão preparados com aplicações de tradução no telemóvel e fazem uso delas. Contudo, percebemos que a situação está a alterar-se nas gerações mais novas, que já estudam inglês na escola.
5- Os chineses são um povo "zen"
MITO. Confesso que vendo as danças tradicionais, sabendo do hábito de fazerem tai chi pela manhã e depreendendo das expressões "paciência de chinês" ou "tortura de chinês", tinha a ideia que os chineses eram um povo calmo, paciente e que faz pouco alarido. A minha convicção começou a ser abalada quando, pouco tempo após ter chegado a Pequim, um espanhol me diz que já não aguentava ouvir os chineses, que eram muito barulhentos (nas palavras dele "mui escandalosos"😏). Pude confirmar que realmente o espanhol tinha razão. Os chineses são barulhentos, falam alto e de uma forma que, à primeira vista, parecem estar zangados. Contudo, é curioso que poucos se chateiam quando são ultrapassados por alguém que não respeita a fila!
6- Na China, os telemóveis têm teclas com os caracteres chineses
MITO. Os telemóveis dos chineses são iguais aos nossos, muitos deles são até das mesmas marcas (por exemplo aquela da maçã 😉) e os chineses estão sempre ao telemóvel!
Pelo que percebi, existem duas formas dos chineses escreverem no telemóvel (sms, por exemplo). Uma é através da transliteração no alfabeto latino do som das palavras chinesas, isto é, as pessoas escrevem no nosso alfabeto o som das palavras e o símbolo chinês do que querem dizer é mostrado no telemóvel. O outro método que assisti é escreverem com o dedo os símbolos, que depois aparecem no ecran. Apesar de ser um processo rápido, é muito frequente (mais do que cá) ver as pessoas a enviar e receber mensagens faladas.
VERDADE. Apesar de serem frequentes as marcas americanas, há ferramentas com origem aí que não são usadas facilmente. O Google e as redes sociais são dois exemplos. Usar o Facebook, o Instagram, o Whatsapp, por exemplo, não é possível, a não ser que se contorne (engane) o sistema. Para todas elas existem uma versão chinesa.
8- A China é uma enorme e pobre "loja de chinês"
MITO. Não vou dizer que não vi lojas do género das que associamos a "loja de chinês". Vi, sobretudo nas localidades mais pequenas, mas encontrei, mais do que esperava, ruas de comércio a fazer inveja às melhores avenidas de Londres ou Nova Iorque, com lojas onde a minha carteira não me permite entrar. Vi Prada, Louis Viton, Omega, Cartier, Ferrari, Porche, etc. etc. Nos centros comerciais, existem muitas das marcas que se vêem cá, vi comércio para todas as bolsas e há de tudo (variedade e quantidade) nos supermercados.
9- As infraestruturas e os transportes públicos são de um país do terceiro mundo
MITO. As estradas por onde andei são ótimas, mesmo nos locais mais remotos onde fui (muito melhores do que aquelas que uso todos os dias). Os aeroportos são equiparados aos da Europa (portanto muito melhores do que o de Lisboa, por exemplo), o metro é moderno e nas alturas de maior afluência tem uma frequência que chega a ser de menos de 1 minuto. Fiquei particularmente espantada com a pontualidade dos comboios e com a organização e facilidade de utilização das estações, que estão organizadas à semelhança do que se faz nos aeroportos. Relativamente aos autocarros não me posso pronunciar, uma vez que apenas os utilizei para uma pequena viagem.
10- Na China, a segurança é apertada
VERDADE. Senti uma segurança reforçada sobretudo nas ruas, onde há por todo o lado câmaras de filmar (os chineses chamam "polícia eletrónica") e muitos polícias, no metro, onde, além de muitos funcionários nas estações e dentro das carruagens, todas as bagagens passam pelo raio-X e os passageiros pelo detetor de metais e nos aeroportos, onde a segurança é mais apertada do que estamos habituados na Europa. Contudo, no metro, não sei se o nível de segurança efetivo acompanha a percepção de segurança que o procedimento dá à população.
11- Quem já comeu num restaurante chinês na Europa conhece a comida chinesa
MITO. Tirando os balões à porta dos restaurantes, nada há mais nada de semelhante entre os restaurantes na China e os restaurantes chineses em Portugal ou no resto da Europa (pelo menos dos que conheço). Tirando os restaurantes de fast food, na maioria dos restaurantes locais trazem chá mal nós nos sentamos e não perguntam o que queremos beber. Nas ementas não se vêem os tão "tradicionais" crepes nem a galinha com amêndoa (nem quase nada do resto). Por outro lado, pratos de massa são comuns e a variedade de cogumelos em algumas regiões é enorme. E não, não se come cão em todo lado. Por onde andámos não encontrámos.
12- Na China não é possível comer outro tipo de comida que não seja a chinesa
MITO. É verdade que a maioria dos restaurante é de comida chinesa mas há restaurantes com outros tipos de comida. Além disso, há supermercados com uma secção de comida e há uma vastíssima oferta de restaurantes fast food, quer de marcas nacionais quer de cadeias internacionais bem conhecidas. Mas há uma curiosidade. Em poucos sítios há hambúrgueres como nós os conhecemos por cá. Por lá, são na sua maioria panados.
13- As casas de banho públicas não são o que há de melhor na China
VERDADE. Há muitas casas de banho públicas mas também não é raro um restaurante não ter casa de banho. E sim, são quase todas muito más.
14- Nas grandes cidades, os gases dos veículos tornam o ar irrespirável
MITO. É certo que não andei com um medidor de poluição mas mesmo em Pequim, o nível de poluição não foi tão elevado que se sentisse (provavelmente tivemos sorte). Nas cidades, o trânsito de carros é intenso (mas não caótico) mas o número de motoretas é incomparavelmente menor do que já vi noutros países asiáticos e são, pelo menos nas cidades maiores onde estivemos, quase na totalidade elétricas.
15- As indicações em chinês tornam impossíveis as viagens por conta própria
MITO. Não posso dizer que a China seja o país mais fácil de se viajar por conta própria, mas a dificuldade não está nas indicações em caracteres chineses. Nos locais por onde andámos foi raro encontrar alguma coisa que não estivesse traduzida no nosso alfabeto. A dificuldade prende-se muito mais com a dimensão do país e das cidades, com a dificuldade em comunicar já que as pessoas não falam inglês e, sobretudo, com o número de turistas (maioritariamente chineses) que tornam imprevisível o tempo que se demorará a visitar os locais.
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