Transportes - Parte 3: Geringonças que (quase) afundam, caem ou rebolam - a primeira

Os "veículos" de que vos vou falar nesta trilogia (sim, serão três "veículos") não são bem meios de transporte. São mais traquitanas que um dia usei para não ir a lado nenhum. Vou começar pelo que quase se afundou, ou deveria dizer "quase flutuou"?

A história passa-se em Maio de 2011, no Rio Mira (Odemira) e decorre no âmbito do Plano Anual de Atividades da minha escola, de cuja direção eu fazia parte. Há ainda outro dado importante: a escola estava prestes a entrar na Parque Escolar e iria ser, na prática, demolida.

Naquele ano letivo, tinha surgido, em Setembro, a ideia de fazer a descida do Rio Mira em jangadas construídas por alunos. A atividade chamava-se "A descida louca do Mira", foi proposta pelos professores de Artes e, depois de aprovada, caiu rapidamente no esquecimento (da direção da escola mas não dos alunos!).

O mês de Maio chegou e a atividade começou a ser preparada. O presidente da escola estava à beira de um ataque de nervos. Por um lado, não queria ser "desmancha prazeres" mas por outro lado, "rio", "água", "alunos", "jangadas", "descida louca" e "professores de Artes" era uma conjugação que não lhe parecia nada segura. Por mais que lhe fosse dito que não havia perigo nenhum, todos teriam colete e que até os bombeiros lá iriam estar, ele continuava relutante. 
Foi então que eu tive uma ideia magnífica: Fazer o enorme sacrifício de deixar os papéis da direção e participar na atividade. Certamente que tudo seria mais seguro com a vice-presidente por perto.
Pronto... talvez não fosse!

O presidente fingiu que acreditava que tudo seria diferente comigo lá, fez-me dez mil recomendações (eram tantas que se tornou impossível decorá-las...) e eu preparei-me para entrar na "A descida louca do Mira"!

A primeira medida que tomei foi ir ver a construção das jangadas.
A República Independente do Bloco C (bloco das artes da minha escola) parecia um estaleiro. Eram bidões, eram garrafões de plástico, eram cordas e tábuas por todo o lado. Havia alunos empoleirados e professores a comandarem as operações e havia uma jangada que se destacava das restantes.... a jangada dos professores!
Foi-me mostrada com pompa e circunstância. Destacava-se por ter cadeiras. Já que iam para o lixo, havia que aproveitá-las para dar dignidade aos ocupantes, que os professores não podiam arriscar a fazer a descida louca do Mira de qualquer maneira...
Eu, na minha ignorância, ainda perguntei baixinho "e isto não se vira?"
Ai o que eu fui perguntar... era evidente que a obra prima da engenharia naval, projetada por professores de Artes, não se virava!!! Mais, tinha havido a importante colaboração de um professor de Matemática.
Agora sim... isto convencia qualquer um... os cálculos matemáticos não falham!

Quando cheguei ao gabinete da direção, o presidente fez a pergunta que se impunha: "Zélia, as jangadas são seguras?" ao que respondi: "Sim" e... corri para a casa de banho para rir!!

No dia marcado lá estávamos nós no rio Mira.

Últimos acabamentos... numa jangada de alunos, que a dos professores já estava impecável!

Jangada dos professores nos únicos 30 segundos que se manteve à tona.


Os alunos puseram as suas jangadas na água e começaram a remar furiosamente.
Os professores puseram a sua fantástica jangada na água e... todos começaram a rir!
O barco dos bombeiros aproximou-se de nós e por mais que eu desse indicações para seguirem os alunos... glu, glu, glu (eu debaixo de água a dar indicações!), os bombeiros insistiam em não sair da proximidade dos professores... não percebi porquê...

Bem... a coisa parecia que não estava a correr como o esperado, mas talvez fosse uma questão de distribuição de peso...
Não...
Qualquer que fosse a distribuição de peso, o resultado era o mesmo...
Pluff!!!  glu... glu... glu...












Jangada dos professores na sua posição natural, ou seja virada, sob atenção dos bombeiros, eu a nadar e os alunos a gozar!

Nova tentativa...

Epílogo da história:
Os professores ficaram encharcados (e gozados) até aos ossos.
O meu relógio avariou-se (é importante!).
Os alunos apanharam uma barrigada de riso.
O presidente achou um bocadinho estranho que todos rissem quando perguntava como tinha corrido mas ficou contente por todos os alunos terem gostado....

Ah... e as cadeiras tiveram de voltar para as salas porque veio a Troika e as obras na escola terminaram mesmo antes de começarem!

Agora assuntos sérios...
O rio Mira nasce na Serra do Caldeirão e desagua em Vila Nova de Milfontes. É dos poucos rios portugueses que corre de Sul para Norte (como o Sado).

Rio Mira (aqui ainda uma ribeira) próximo do local onde nasce.

Parte do curso do rio Mira está inserido no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina e barcos turísticos (dos que não afundam) fazem passeios de Vila Nova de Milfontes a Odemira.
Espero que as fotografias da minha colega Maria Dias vos inspirem a visitar esta zona (podem pesquisar no Facebook o seu perfil e encontrarão muitas outras fotografias).

Vale a pena a visita!

Rio Mira (Foto de Maria Dias)

Rio Mira junto a Odemira (Foto de Maria Dias)

Vista de Odemira (Foto de Maria Dias)




Vista de Odemira (Foto de Maria Dias)



Artigos da mesma série

Transportes - Parte 3: Geringonças que (quase) afundam, caem ou rebolam - a segunda


Comentários

  1. Grande aventura! Como sempre, uma excelente narrativa. Obrigada por dares "voz" às minhas fotos :)

    ResponderEliminar
  2. Zélia, ontem descobri o teu Blogue. Não fazia a mínima ideia da sua existência Os meus parabéns pelo modo como relatas as tuas "aventuras", cheias de humor tornando-as super engraçadas. Grande beijinho.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Albânia - roteiro de 14 dias com informações úteis

Roteiro pela Andaluzia, sem as cidades grandes

Guia de viagem a S. Miguel (Açores)