Viagens com "pedras" - parte 1

Como disse na minha apresentação, sou dada à geologia. Gosto, pronto!
Apenas fiz uma viagem em que o objetivo principal era ver a região numa perspetiva geológica. Foi aos Açores, em 1995. Mas depois disso, aproveito sempre as viagens que faço para ver uma "pedrinha" ou outra... e se possível... para trazer! As amigas com quem viajo viram os olhos e pensam (eu sei que pensam) "lá temos nós de fazer um desvio para a Zélia ver um pedregulho qualquer no meio do nada!", o que é certo é que depois gostam.
São algumas dessas histórias que me proponho a contar agora, esperando que inspirem alguém. 

À falta de melhor critério começo pelo princípio.

Açores - 1995

A visita aos Açores foi uma ação de formação de geologia para professores, o que significa, portanto, que todos os participantes eram professores. Esta parte é importante. Eu e as minhas 3 amigas éramos as mais novas do grupo. Talvez por isso não precisássemos de fixar o número do nosso quarto. Quando chegávamos ao hotel para dormir (à hora normal de um jovem ir dormir...), as chaves dos nossos quartos eram as únicas no chaveiro...

Todos os restantes membros do grupo tinham idade para serem nossos pais. Todos estavam sempre impecavelmente vestidos. Eles com uns coletes a condizer com a situação, elas de sapatilhas a estrear. Além disso, as senhoras tinham cabelos louros, bastante armados e viviam um drama: como fazer para ir ao cabeleiro nos Açores, durante a visita. Aqueles cabelos precisavam de 2 idas  ao cabeleireiro por semana. No final da viagem, elas já não se pareciam com coisa nenhuma e nós... estávamos iguais ao que estamos sempre: GIRÍSSIMAS! 

Feita a caracterização das personagens, vamos aos acontecimentos.

Da visita fazia parte subir ao vulcão dos Capelinhos, cuja última erupção foi em 1957. Em 1995 ainda parecia uma paisagem lunar. Estava vento e a cinza vulcânica metia-se em todas as partes côncavas do nosso corpo e no precioso cabelo das senhoras. O geólogo que nos acompanhava ia explicando e eis se não quando escava com as mãos a cinza, encontra uma bomba vulcânica e diz: "uma bomb...". Já não teve tempo de dizer mais nada. Eram 50 professores feitos loucos a escavar tal cão que procura um osso!

Bomba vulcânica, a preciosidade procurada (Fonte: http://siaram.azores.gov.pt/)

Quando digo que 50 professores escavavam com as próprias mãos a cinza à procura de bombas vulcânicas, não bem assim. As senhoras de cabelo armado, tinham unhas impecáveis e pele sedosa e  portanto não escavavam. Olhavam em redor à espera que as bombas lhes viessem parar às mãos! E não vinham. E ainda se dirigiam a mim e às minhas amigas: "as colegas têm jeito para descobrir bombas". Até hoje estou para decifrar o que queriam dizer....

Resumo da história: entre os que escavaram e os que pediram para escavar, todos vínhamos carregados de cinza, lapilli (pedrinhas pequenas) e de bombas, mais a areia da praia que já tínhamos recolhido. Eu tinha mais de meia mochila de rochas, mas houve gente com mochilas cheias.

Chegou a hora da partida e as ditas mochilas foram para o porão do avião. Entrámos, sentámos e esperámos. Esperámos, esperámos... esperámos.. e após uma hora de espera o avião não descolava. Foi então que se ouviu a voz do comandante: "Senhores passageiros lamentamos o tempo de espera mas tivemos de resolver um problema" .... silêncio... e continuou... "Tivemos de redistribuir a bagagem de porão porque o espaço que tínhamos previsto não chegou."... silêncio durante uns 3 segundos e depois... uma gargalhada em uníssono! Excesso de bombas, portanto!

Ouvi dizer que já não é permitido trazer rochas do vulcão dos Capelinhos, não sei se é verdade ou não mas se for acho bem. Com malucos como nós, não seriam necessários muitos anos para que todos os vestígios do vulcão tivessem desaparecido.

Nota final: É claro que as minhas bombas vulcânicas não estavam no porão. Material precioso levo sempre na bagagem de cabine!
Estas bombas ainda hoje existem e em 20 anos já passaram pelas mãos de centenas de alunos.

continua...

Podem ler outros relatos de viagens com "pedras" aqui (parte 2), aqui (parte 3), aqui (parte 4) e aqui (parte 5).

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