Transportes - Parte 3: Geringonças que (quase) afundam, caem ou rebolam - a segunda

A história que vos conto hoje é da geringonça que quase cai. Passa-se em 2002.

A minha colega de casa comprava religiosamente, todos os sábados, um jornal bastante "Espesso". Era um saco cheio de papel. Enquanto ela lia as notícias importantes, eu entretinha-me com a parte que tinha mais "bonecos" - a revista.

Um dia, a minha parte ganhou no valor noticioso. Uma pequena coluna falava sobre passeios de balão de ar quente, em Abrantes.
E se fossemos?
Bem dito, bem feito, telefonámos (não havia internet...), marcámos e no dia 10 de Junho estávamos, bem cedo, no local combinado. Não haveria melhor forma de comemorar o dia de Portugal.

O dono do balão chegou (passo a tratá-lo por condutor) com o dito num atrelado. Tira o balão e....
Eu já tinha visto balões de ar quente na televisão, mas ao vivo... aquela cesta de vime parecia-me tão frágil (podia não ser vime, mas era frágil)... e seríamos 5 passageiros (não saltem a descrição, que ela é importante): o condutor, eu, a minha amiga (bastante matulona) e um casal de brasileiros, em que o senhor era um franganote comparado com a minha amiga. 
Cinco pessoas num cestinho!
Já só me apetecia dizer que afinal comemoraríamos o dia de Portugal com os pés bem assentes na terra, quando a coisa piorou. O condutor olhava para céu e dizia "o tempo não está nada bom para passeios de balão, só faço isto porque vocês vieram de longe."
Ai Jesus me valha! (dá-me para a religião quando o assunto é esbardalhar-me de um balão abaixo).


Cestinho e condutor com o resto do balão (Foto minha - digitalizada)

O senhor encheu o balão com ar quente e chegou a hora de nos enfiarmos lá dentro. O cesto abanava furiosamente e foi muito a custo e com muitas indicações "todos para a direita, todos para a esquerda, mais peso aqui, mais peso acolá" que entrámos.

A subida não foi fácil....
Era o vento....
Mas o passeio até foi calmo. Eu até já consegui tirar fotografias e... respirar!

Estava eu já a dominar a situação, quando o condutor diz: "vamos baixar". Na minha cabeça isto queria dizer: "vamos perder um pouco de altitude para ter outra perspetiva" mas o que realmente aconteceu foi: Vuuuuuu! Puumm! Catrapuz!!
Tínhamos aterrado e eu nem sabia se tinha as pernas para cima ou para baixo!

O cesto tinha-se virado e nós estávamos às camadas.
1ª camada - casal de brasileiros, lado a lado, voltados para cima.
2ª camada - eu em cima da brasileira, voltada para baixo e a minha amiga em cima do brasileiro, voltada também para baixo (estávamos, portanto, ambas voltadas para os nossos "parceiros" só que a minha amiga com mais sorte do que eu e o brasileiro com mais azar do que a brasileira).
3ª camada - o condutor do balão, por cima de nós todos, meio pendurado nos ferros.


Foi assim que ficou o cesto após a  aterragem (Foto minha - digitalizada)

Estávamos todos bem, só não sabíamos como sair dali, ou melhor, por que ordem sair.
Vem então o diálogo louco. Parecia que tínhamos todos tido um ataque de gentileza:
A minha amiga para o brasileiro: saia o senhor.
O brasileiro para a minha amiga: o melhor é sair você primeiro (lembremo-nos que o franganote brasileiro estava deitado de costas no chão, tinha a minha amiga matulona em cima e que para sair tinha que se agarrar a ela e arrastar-se debaixo dela. Uma manobra bastante "perigosa", portanto).
A brasileira já olhava para nós e sobretudo para a minha amiga com o ar de "ou vocês saem de cima de nós ou vai haver aqui um assassinato".

E pronto, depois de ajustada a tática lá conseguimos sair, mas não foi fácil. Durante meses chorávamos a rir de cada vez que nos lembrávamos do franganote debaixo da minha amiga com medo do que aconteceria se se arrastasse debaixo dela.

Dez anos antes (1992) tinha acontecido algo parecido a uma jornalista, mas connosco foi com mais estilo, claro! (e sem José Rodrigues dos Santos a rir).



Há lugares fantásticos para fazer um passeio de balão. Um deles é a Capadócia (Turquia). Por mais cara (e é caro!) que vos pareça a experiência, se tiverem oportunidade, não a percam. Verão que darão por bem empregue o dinheiro que gastaram.

Capadócia de balão (Fonte: https://commons.wikimedia.org/)

Comentários

  1. Parabéns Zélia,mais uma descrição hilariante das tuas experiências de vida. Muito bom!!! 😀

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